Ana Brito, Hugo Inácio, Daniela Marto, Dina Pita, Andreia Amaral, Sofia Mateus, Salvador Morais Sarmento, Miguel Sousa Leite, Catarina Espirito Santo, Marta Moitinho, Paulo Barreto, Catarina Salvado
INTRODUÇÃO
A alteração do estado de consciência é uma das queixas principais mais frequentes e mais graves dos doentes que recorrem ao serviço de urgência (SU). Esta queixa inclui a perda de consciência transitória (PCT), que pode ser classificada, segundo o mecanismo fisiopatológico, em alterações da perfusão cerebral, disfunção neurológica, de origem psicogénica, e ainda outras causas mais raras.
OBJECTIVOS
Estudar a população de doentes que recorreram a um SU polivalente, durante um ano, com PCT.
MÉTODOS
Estudo observacional retrospetivo dos doentes com PCT, segundo a definição da European Society of Cardiology (ESC) – guidelines 2018, que recorreram ao um SU polivalente, durante o ano de 2017.
Dos 1496 doentes com queixa principal ´alteração da consciência/síncope´ (2.1% dos encaminhados à Medicina Interna), selecionamos uma amostra aleatória de 100.
RESULTADOS
Verificámos que 72% tiveram diagnóstico provisório no SU; 28% tiveram diagnóstico definitivo (13% patologia cardiovascular e 15% tiveram PCT de outras causas).
No grupo de doentes com diagnóstico definitivo, as patologias mais frequentes foram as intoxicações (7%) e o tromboembolismo pulmonar (4%).
Naqueles com diagnóstico provisório, síncope vagal foi o mais frequente (19%); 37% não apresentavam registo de hipótese diagnóstica.
A idade média e o género variaram entre os grupos, sendo o género feminino mais prevalente nos doentes com diagnóstico provisório (68%); e a idade média mais elevada na patologia cardiovascular (75 anos). Em relação aos antecedentes, 69% tinham registos de patologia cardíaca e 37% de epilepsia.
A maioria dos doentes tiveram PCT em posição ortostática (16%) e 5% tiveram PCT em decúbito. Em 38% foram registados pródromos.
Relativamente aos métodos complementares de diagnóstico, 89% fizeram eletrocardiograma e avaliação analítica, 70% dosearam troponina e 23% dosearam D-dímeros.
Apenas 15% foram internados, a maioria (69%) pertencia ao grupo com patologia cardiovascular, sendo que, 7% destes foram para unidade de cuidados intensivos.
Dos doentes não internados, 76% apresentaram critérios de alto risco segundo as ESC - guidelines 2018. A maioria destes foi encaminhada a consulta de medicina geral e familiar (MGF).
DISCUSSÃO
Concluímos que poucos doentes com PCT têm diagnóstico definitivo no SU. A maioria destes foi encaminhada para continuar estudo em ambulatório com MGF, não havendo informação acerca da investigação realizada. Estes dados sugerem a importância de melhorar a articulação com os cuidados de saúde primários ou a criação de uma consulta especializada em meio hospitalar.