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ESPONDILODISCITE A KLESIELLA PNEUMONIAE NUMA DOENTE IMUNODEPRIMIDA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P582 - Resumo ID: 1570
Centro Hospitalar de Tondela-Viseu
Rui Correia, Ricardo Lavajo, Marlene Delgado, António Correia
Introdução:
A Espondilodiscite Infecciosa (EI) pode ser definida como uma infeção que afeta o corpo vertebral, o disco intervertebral ou o tecido paraespinhal adjacente, sendo as vértebras lombares a sua localização mais frequente e a disseminação hematogénea a principal causa da infeção. A etiologia pode ser piogénica, cujo agente mais frequente é o Staphylococcus Aureus, no entanto estão descritos casos causados por bactérias aeróbias Gram-negativas em doentes imunodeprimidos.
Caso Clínico:

Mulher de 61 anos, antecedentes de Glioblastoma submetido a intervenção cirúrgica seguida de radioterapia concomitante com quimioterapia com temozolamida, suspensa por toxicidade medular com anemia aplásica. Internada por quadro com 24 horas de evolução de febre, dor lombar de características mecânicas e sem história de traumatismo, alguns dias após a alta hospitalar do serviço de Oncologia. Analiticamente com pancitopenia e biomarcadores de inflamação, sendo que o rastreio séptico levou a identificação de Klebsiella pneumoniae ESBL na urocultura sem evidência de bacteriemia, pelo que se admitiu o diagnóstico de pielonefrite aguda não obstrutiva (confirmada ecograficamente), desenvolvendo depois um quadro de sépsis grave com ARDS mas com resposta clínica favorável à antibioterapia dirigida em associação a medidas de suporte nomeadamente corticoterapia, oxigenoterapia em alto débito, fatores de crescimento, transfusões de concentrado de eritrócitos e plaquetas. Por persistência da dor lombar, realizou TC, RM e PET que foram inconclusivas relativamente à hipótese de espondilodiscite, identificando uma fractura lombar recente. Entretanto, cerca de um mês depois, a doente reinicia febre, mantendo as queixas álgicas, com necessidade de escalada analgésica, pelo que repete estudo microbiológico levando novamente ao isolamento de Klebsiella pneumoniae ESBL na urocultura e hemoculturas e repetiu RM da coluna lombar que confirmou espondilodiscite lombar. Após 6 semanas de antibioterapia com meropenem efetuou RM da coluna lombar de controlo que mostrou melhoria das lesões mas ainda com processo infecioso ativo pelo que se prolongou antibioterapia até aos 3 meses com melhoria clínica e franca melhoria radiológica objetivada na RM.

Conclusão:
O diagnóstico de Espondilodiscite é geralmente tardio devido à natureza inespecífica dos sintomas, condicionando elevada morbimortalidade, sendo fundamental um elevado índice de suspeição, tal como se pode constar neste caso, em que a insistência no estabelecimento diagnóstico nos levou a bom porto. Por outro lado, a imunossupressão da doente foi o fator predisponente para a infeção por um agente menos comum e que implicou uma abordagem terapêutica mais complexa.
Salienta-se ainda este caso, pela anemia aplásica secundária à temozolamida que ocorre em menos de 1% dos casos, sendo a trombocitopenia isolada, o seu efeito hematológico habitualmente mais grave.