Marta Cerol, Natália Teixeira, Ana Mestre, Cátia Correia, Margarida Pereira, Ana Vera-Cruz, Marina Boticário, Rita Paulos, Margarida Cabrita
A febre é um sinal comum apresentado por indivíduos com doença aguda. Define-se febre de origem desconhecida quando tem uma evolução superior a três semanas e mantem diagnóstico indeterminado após uma semana de estudo em regime de internamento. As principais etiologias são a infeciosa, as doenças autoimunes e as neoplasias, mas após a sua exclusão é necessário ter em consideração outras etiologias, nomeadamente a presença de dispositivos médicos implantados ou corpos estranhos.
Apresenta-se o caso de um indivíduo do sexo feminino, 55 anos, com antecedentes de cirurgia bariátrica para colocação de banda gástrica há dez anos, hipertensão arterial primária e doença do refluxo gastro-esofágico, medicada com a associação de valsartan com hidroclorotiazida e esomeprazol. Recorreu ao hospital por quadro com dez dias de evolução de febre com calafrio, sem outras queixas associadas. Tinha sido avaliada no serviço de urgência uma semana antes, tendo sido diagnosticada uma pielonefrite aguda e a doente teve alta medicada com amoxicilina/ácido clavulânico. Apesar de completar o curso de antibioterapia, manteve quadro febril. À admissão encontrava-se consciente e orientada, com parâmetros vitais estáveis, febril com calafrio e com dor à palpação do hipocôndrio esquerdo. Analiticamente salienta-se leucocitose (13700x109/L) com neutrofilia (82.5%), PCR 2.12mg/dl e VS 19mm. Colheu hemoculturas e urocultura, que foram negativas. Realizou ecografia abdominal e TC toraco-abdomino-pélvica que não mostraram alterações relevantes, ecocardiograma transtorácico que não mostrou presença de vegetações em válvulas cardíacas e cinfigrafia com leucócitos marcados sem foco de captação anormal do radiofármaco. Dado manter febre, apesar do estudo realizado, e após discussão da situação clínica com a equipa de Cirurgia Geral, decidiu-se realizar cirurgia para remoção da banda gástrica e realização de bypass gástrico, que decorreu sem intercorrências. Após a intervenção a doente não voltou a apresentar picos febris.
Este caso demonstra a importância de se considerarem etiologias infrequentes de febre de origem desconhecida após a realização da marcha diagnóstica adequada com exclusão das causas mais frequentes.