David Ferreira, Ana Clara Dinis, Joana Alfaiate, João Paulo Caixinha, Fátima Pimenta
Introdução: Doentes com tireotoxicose podem cursar com alterações psiquiátricas como depressão, mania ou psicose aguda. A psicose tem sido relatada em até 1% dos pacientes com tireotoxicose.
Caso Clínico: Relatamos caso clínico de homem de 50 anos, previamente saudável, trazido ao Serviço de Urgência por ideias delirantes de cariz persecutório, alucinações auditivas, insónia nas 3 semanas anteriores, olhar perplexo e humor eutímico. Objetivamente apresentava discreta exoftalmia e tremor essencialmente dos mãos. Analíticamente sem alterações identificadas e pesquisa de drogas negativo. Procedeu-se à realização de tomografia computorizada crâneo-encefálica sem alterações evidentes. Atendendo aos achados no exame objetivo, foi pedido a função tiroideia que revelou TSH < 0.005 uUl/mL; T4 livre 1.4 ng/dl. Diagnosticada a tireotoxicose, iniciou-se metimazol. O acompanhamento ambulatorial acusou remissão das anormalidades em concomitância com o tratamento da tireotoxicose, sem a necessidade de novas doses de antipsicóticos. Posteriormente foi confirmado o diagnóstico de Doença de Graves [Anticorpos Anticorpo tiroglobulina 365 UI/mL; Anticorpo Anti-tireoperoxidase 1655 UI/mL; TRABS +]
Discussão: As características que sugeriam doença orgânica como causa dos sintomas psiquiátricos deste caso incluíram idade tardia do início das queixas, ausência de história pessoal ou familiar de psicopatias, início recente de manifestações psicóticas e sinais de tireotoxicose. A tireotoxicose frequentemente associa-se a irritabilidade, insônia, ansiedade, fadiga e alteração da concentração e da memória, sintomas estes que podem ser episódicos ou evoluir para mania, depressão ou delirium. As reações psicóticas à tireotoxicose são atualmente pouco comuns e, quando presentes, associam-se à tireotoxicose não tratada.