Antonio Costa Carneiro, Madalena Silva, Isa Silva, Ines Nabais, Filipa Taborda, Luis Pereira, Alexandre Fernandes, Magda Faria, Ana Boquinhas
Apresenta-se uma doente do sexo feminino, com 92 anos, com síndrome demencial vascular, com dependência total nas actividades de vida diária, admitida no S. Urgência por dispneia e dor abdominal. Encontrava-se polipneica com dor abdominal difusa à palpação, sem defesa nem reacção peritoneal. Analiticamente, com leucocitose de 15250*10^6/L, neutrofilia de 92.3% e proteína C reactiva de 25.14 mg/dL. O radiograma de tórax demonstrava uma elevação marcada da hemicúpula diafragmática direita com interposição do cólon, sugestiva de eventual eventração. Assim, a doente realizou TC-tórax que descrevia com uma interposição anterior do cólon ao fígado, sugerindo hemiparésia diafragmática direita e provável síndrome de Chilaiditi, com focos de condensação à esquerda. Perante pneumonia da comunidade foi iniciada antibioticoterapia e a doente foi observada pela C. Geral, com indicação para terapêutica sintomática e descompressiva, com enemas.
A síndrome de Chilaiditi é uma entidade rara, com incidência de 0.3%, caracterizada pela interposição anterior do cólon, que se localiza entre o fígado e o diafragma, cursando com queixas gastrointestinais, tipicamente dor abdominal, e/ou cardiorrespiratórias, nomeadamente dispneia ou angor. O sinal de Chilaiditi corresponde à presença dos achados radiológicos descritos, num doente assintomático. A causa desta entidade é desconhecida, embora pareça estar associada a alterações anatómicas (como o dolicocólon ou hiperlaxidão do ligamento falciforme ou suspensor do cólon), fisiológicas (como a obstipação crónica ou aerofagia) e patológicas (cirrose hepática ou doença pulmonar obstructiva crónica). O tratamento é geralmente sintomático, excepto em caso de complicações, nomeadamente, volvo, oclusão, isquémia ou perfuração.