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LÚPUS INDUZIDO POR ESTATINAS
Doenças autoimunes, reumatológicas e vasculites - E-Poster
Congresso ID: P076 - Resumo ID: 1581
Hospital Pedro Hispano
Joana Rodrigues Morais, Raquel Santos, Cristina Rosário
A exposição continuada a determinados fármacos pode desencadear fenómenos autoimunes. Alguns doentes desenvolvem uma síndrome com características semelhantes ao lúpus eritematoso sistémico (LES), designada lúpus induzido por fármacos, mais comum em idosos caucasianos e com igual distribuição entre géneros. É difícil estimar a sua incidência dado ser dependente do fármaco e da frequência de prescrição do mesmo.

Expomos o caso de uma mulher de 77 anos, medicada por múltiplos factores de risco vascular e hipocoagulada por fibrilhação auricular, que recorre ao serviço de urgência por febre, tosse produtiva e dispneia para esforços moderados. Tinha já vários internamentos por clínica semelhante e cursos de antibioterapia, mas com rápida recidiva da sintomatologia. Apresenta-se com insuficiência respiratória hipoxémica, sem imagem de condensação parenquimatosa pulmonar, mas com derrame pleural bilateral mínimo em radiografia torácica, e com franca elevação dos parâmetros inflamatórios. Para melhor caracterização imagiológica realizou tomografia computorizada torácica que evidenciou derrame pleural bilateral de pequeno volume e derrame pericárdico de grande volume. Este último confirmado por ecocardiograma transtorácico, sem sinais sugestivos de fisiologia constritiva. Por este motivo foi suspensa hipocoagulação e iniciada colchicina e AINE, com subsequente melhoria, mas a manter síndrome inflamatório sistémico exuberante (VS > 120mm/1ªh).
No internamento não foi identificado agente infeccioso etiológico, inclusive Mycobacterium tuberculosis, foi excluída causa neoplásica, tendo o estudo imunológico revelado ANA 1:640, com anticorpo anti-histona positivo e anti-dsDNA (Chrithidia) negativo, sem consumo de complemento. Assumiu-se o diagnóstico etiológico de polisserosite secundária a lúpus induzido por fármacos.
Revista terapêutica da doente foi identificada a estatina como fármaco causal. Dada a exuberância do derrame pericárdico foi decidido não só suspender a estatina, mas também efectuar corticoterapia sistémica com resolução clínica e melhoria da inflamação sistémica.

As estatinas são fármacos frequentemente prescritos, sendo crescente, apesar de incomum, o número de casos descritos de síndrome lúpus – like. Além do seu efeito anti-dislipidémico, vários estudos demonstraram as suas propriedades anti-inflamatória e imunomoduladora, pelo que se pensa poderem induzir uma resposta imune desregulada.
Habitualmente, no lúpus induzido por fármacos, a sintomatologia surge meses após início do fármaco, sendo a lesão de orgão-alvo menos comum que no LES, o que muitas vezes leva ao atraso do diagnóstico ou mesmo o não reconhecimento da síndrome.
Assim, apresentamos este caso para salientar a importância de manter um elevado índice de suspeição no diagnóstico desta entidade, que pode surgir com fármacos tão frequentemente utilizados na nossa população.