Rui Correia, João Santos, Ricardo Lavajo, Inês Almeida, Marlene Delgado, António Correia
Introdução:
O mixoma é um dos tumores primários mais comuns do coração. Podem ser esporádicos, ocorrendo predominantemente em mulheres de meia-idade, ou familiares, que se manifestam em idades mais precoces. Mais frequentes na aurícula esquerda, causando tanto estenose como insuficiência mitral. São uma fonte de êmbolos, pelo que se manifestam, habitualmente por doença tromboembólica que pode acometer vários órgãos.
Caso clínico:
Mulher de 37 anos com antecedentes de Hipotiroidismo e AVC isquémico da circulação posterior de etiologia não esclarecida (apesar de estudo complementar exaustivo) aos 22 anos. Quadro súbito de hemihipostesia esquerda, acompanhada por queixas visuais de visão turva bilateralmente. O exame físico confirmou a hemihipostesia álgica à esquerda, prova de braços estendidos com queda e pronação do membro superior esquerdo e prova de Mingazzini com discreta queda do membro inferior esquerdo. A TC CE realizada no SU não evidenciou lesões vasculares agudas ou neoformações. Admitida em internamento com a hipótese de AVC isquémico, contudo a TC CE de controlo confirmou a presença de lesão isquémica recente tálamo-capsular direita, sem sinais de transformação hemorrágica (e a mesma foi ainda posteriormente confirmada na RM CE). Sendo assim, prosseguiu-se com o estudo etiológico do evento cerebral que compreendeu: Análises com perfil lipídico, ácido úrico, homocisteína, autoimunidade e trombofilias sem alterações dignas de registo (mas ainda pendentes o estudo das mutações do MTHFR, Factor V de Leiden e Protrombinemia G20210); Ecodoppler dos vasos cervicais foi normal e o Ecocardiograma transtorácico revelou massa ecodensa na aurícula esquerda com alguma mobilidade aderente ao septo interauricular. Para melhor caracterização desta massa cardíaca, realizou ecocardiograma transesofágico que confirmou massa ovalada, homogénea, vascularizada, aderente à porção média do septo interauricular, com 23x17x15 mm, sem condicionar prolapso da válvula mitral ou obstrução do enchimento ventricular esquerdo - compatível com Mixoma Auricular. Inicialmente instituída terapêutica com antiagregante plaquetário, substituída por hipocoagulação terapêutica dada a suspeita de embolização cardiogénica, com fonte no mixoma auricular. Neste contexto, foi contactada a Cardiologia, para orientação e encaminhamento para a Cirurgia Cardiotorácica, tendo a doente sido aceite para tratamento cirúrgico.
Conclusão:
Este caso salienta-se pelo facto de o Mixoma Auricular ser uma causa rara de AVC, constituindo apenas 0.5% da etiologia dos eventos cerebrovasculares. E ainda pela importância de estabelecer um diagnóstico etiológico no AVC, particularmente nos jovens, que pode condicionar a sobrevivência ou a qualidade de vida destes doentes.