João Carvalho, Catarina Parra, Vanessa Pires, Paulo Subtil
Introdução:
As dermatoses purpúricas pigmentadas, ou capilarites, são um grupo de doenças caracterizadas por erupções cutâneas, benignas, de evolução crónica e podem-se dividir em vários tipos. A sua frequência é rara e a sua fisiopatologia prende-se com o extravasamento de eritrócitos para a derme e deposição de hemossiderina, fazendo com que a sua coloração possa variar desde o vermelho-acastanhado até ao dourado-acastanhado.
Caso clínico:
Sexo feminino, 34 anos, com antecedentes pessoais irrelevantes e medicada com contracetivo oral. Recorreu ao serviço de urgência por clínica com 4 dias de evolução de lesões maculopapulares, eritematosas, dolorosas e pruriginosas, com progressão cefalocaudal (inicialmente nos membros superiores, não poupando as palmas das mãos, tronco e região dorsal e posteriormente nos membros inferiores) e sem atingimento da planta dos pés ou das mucosas. Concomitantemente referia cefaleias, vómitos e diarreia. Negava febre, alteração da medicação, contacto com materiais diferentes do habitual ou pessoas com a mesma sintomatologia. Ao exame objetivo, para além das lesões previamente descritas, estava subfebril (Taur 37.5°C). As análises sanguíneas, radiografia de tórax e o exame sumário de urina não apresentavam alterações de relevo. Realizou ainda estudo analítico alargado para pesquisa de causas infeciosas, que mostrou apenas contacto não recente (imunidade) para CMV, sendo o restante estudo negativo (hemoculturas, coproculturas, reação de Paul Bunnell, reação de Widal, reação de Wright, Rosa Bengala, serologias ricketsia, toxoplasmose, vírus hepatite B, vírus hepatite C, vírus da imunodeficiência humana 1 e 2). A pesquisa de causas autoimunes também foi negativa e o doseamento de complemento e imunoglobulinas foi normal. Apresentou evolução lentamente favorável sob terapêutica anti-histamínica e com franca melhoria após o início do ciclo de corticóide sistémico (prednisolona 1 mg/Kg/dia). Realizou biópsia cutânea que descreveu aspetos morfológicos compatíveis com dermatite purpúrica pigmentada. Na reavaliação em ambulatório as lesões cutâneas regrediram de forma significativa.
Conclusão:
Os autores pretendem alertar para uma patologia rara e sobre a qual o conhecimento atual é escasso. Uma história clínica e exame objetivo detalhados podem levantar a suspeita diagnóstica mas o resultado histológico é fundamental. O tratamento não está bem estabelecido e compreende desde a evicção de fatores desencadeantes, caso existam, até ao uso de anti-histamínico, pentoxifilina, corticóide, radiação UV ou colquicina.