Introdução
O tromboembolismo pulmonar (TEP) é uma patologia frequente mas subdiagnosticada, com sinais e sintomas pouco específicos o que causa algum atraso na suspeita clínica. É uma causa major de mortalidade, morbilidade e hospitalização, motivo pelo qual constitui uma patologia de elevada importância.
Objectivo
Descrever a casuística de TEP diagnosticados num hospital português durante o ano de 2017 e estudar dados clínicos, demográficos, mortalidade e factores de risco.
Método
Estudo retrospectivo que abrangeu todos os doentes internados entre 1 de Janeiro e 31 de Dezembro de 2017. Foram consultados os processos clínicos electrónicos e foram recolhidas variáveis antropométricas (idade, sexo, IMC), serviço e duração do internamento, mortalidade a 30 dias e a 6 meses, status de anticoagulação (prévia, após diagnóstico e à data da alta), realização de fibrinólise, caracterização do diagnóstico por exames imagiológicos, repercussão nas cavidades cardíacas direitas (ecocardiograma e no ECG), alterações gasimétricas, presença de eventos trombóticos prévios e de factores de risco para TEP (IMC, dislipidémia, neoplasias, imobilização, cirurgias major, trombofilias, doença hepática crónica, insuficiência cardíaca).
Resultados
Foram identificados 146 doentes com diagnóstico de TEP, que corresponde a 0,78% da totalidade dos internamentos em 2017 (18462). A duração média de internamento foi de 17,96 dias (máximo - mínimo). A taxa de mortalidade a 30 dias foi de 18,49% e 30,14% a 6 meses. A maioria dos casos (97,26%) foi diagnosticada por Angio-TC torácica, os restantes, através de cintigrafia V/Q e autópsia. Houve uma percentagem considerável de eventos maciços (36,30% nas artérias pulmonares primitivas bilateralmente). Dos doentes que realizaram estudo ecocardiográfico (85), 58,82% apresentaram critérios de sobrecarga das cavidades direitas (dilatação do ventrículo direito e/ou aumento da PSAP). O padrão electrocardiográfico S1Q3T3 foi documentado em 21,01%. Quanto aos factores de risco, 10,95% dos doentes tinham mais de 70 anos e 22,60% um IMC>30kg/m2. Em 32,88% dos doentes havia uma história prévia de eventos trombóticos. Tinham neoplasias 32,88% dos doentes. Destes, 22,91% tinham neoplasia do pulmão, 18,75% da mama, 12,5% do tubo digestivo, 12,5% do sistema nervoso central, 10,42% das glândulas anexas do tubo digestivo. Nesta série 12,33% dos doentes estavam previamente hipocoagulados.
Conclusões
Verificou-se mortalidade elevada e superior à esperada quando consultadas outras séries. A ausência de critérios de sobrecarga no ecocardiograma ou de padrão S1Q3T3 não deve afastar definitivamente a hipótese diagnóstica de TEP.
Salienta-se a importância do conhecimento das características dos doentes com esta patologia, que se evidencia neste estudo, na suspeita clínica e diagnóstico precoce.