Filipe Bessa, Pedro Gaspar, João Boavida Ferreira, Pedro Meireles, Catarina Mota, João Meneses, Rui Victorino
Introdução: O contacto com asbestos é o maior factor de risco para o desenvolvimento de mesotelioma. No entanto, em 10 a 20% dos casos, admite-se a influência de outros factores, nomeadamente o contacto com o mineral erionite, a radioterapia pleuro-pulmonar prévia e contacto com o vírus SV-40. Os autores apresentam um caso de mesotelioma que consideram relevante pela ausência de informação referente aos factores de risco acima referidos.
Caso clínico: Uma mulher de 69 anos, doméstica, sem hábitos tabágicos ou outros factores epidemiológicos conhecidos para patologia respiratória, foi admitida por dor pleurítica à direita, cansaço e dispneia para médios esforços, com cerca de uma semana de evolução. Tinha abolição do murmúrio vesicular no terço inferior do hemitórax direito. A radiografia torácica sugeriu derrame pleural direito e desvio direito da traqueia. A toracocentese revelou exsudado sero-hemático, sem identificação de células neoplásicas ou agentes infeciosos. A biópsia pleural mostrou denso infiltrado inflamatório, sem neoplasia. A TC toraco-abdomino-pélvica revelou derrame e múltiplas lesões sólidas pleurais direitas bem como trombose do ramo descendente da artéria pulmonar esquerda. A PET scan marcou apenas as múltiplas lesões pleurais. Foi efectuada biópsia de massa pleural com identificação de mesotelioma maligno do tipo epitelioide. A evolução clínica foi fulminante, com evidência por TC de progressão dimensional e numérica das lesões pleurais direitas que se tornaram confluentes numa volumosa massa que condicionou desvio contralateral do mediastino. Sem possibilidade de intervenção cirúrgica ou quimioterapia, a doente veio a falecer dois meses após o início dos sintomas.
Discussão: Perante a ausência na anamnese dos factores de risco mencionados na introdução, o factor etiológico admitido como mais provável foi o de contacto ignorado com asbestos. Entre o contacto com estas fibras e o aparecimento do tumor observa-se um período de latência de 15 a 40 anos, o que pode explicar o contínuo aumento da incidência e prevalência de mesotelioma a nível mundial o qual se prevê que possa atingir um pico no ano de 2020.