Joana Azevedo Carvalho, Leonor Boavida, Célia Henriques, Ricardo Marques, Ana Bastos Furtado, José Delgado Alves
As unidades de cuidados intermédios (UCINT) são unidades de elevada dependência. O seu funcionamento como parte integrante de uma enfermaria de medicina constitui uma importante mais-valia ao permitir uma rápida rotatividade de doentes. O presente estudo tem como objetivo a caracterização a população de doentes admitida numa UCINT de nível 1, integrada numa enfermaria de Medicina Interna de um hospital distrital com uma capacidade de 6 camas.
Estudo descritivo, retrospectivo realizado entre Janeiro a Dezembro de 2017. Da população de 344 admissões, 48 foram excluídas por ausência de dados na base de dados da unidade. A recolha de dados foi baseada da consulta dos processos clínicos em sistema informático Soarian®.
A população é constituída por 57,1% de doentes do sexo masculino, com idade média de 71,4 anos, com um índice de comorbilidade de Charslon de 5.9. A maioria dos quais provêm do Serviço de Urgência (60.1%), com uma percentagem substancial de doentes transferidos da enfermaria (16.9%) e Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) (13,5%). A demora média da população na UCINT é de 5,3dias/doente com uma demora média hospitalar de 23 dias/doente. Da análise do subgrupo de doentes provindos da UCI verifica-se que a demora média na UCINT é mais baixa (4,4 dias/doente) com uma demora média hospitalar superior (39.2dias/doente). A gravidade do doente admitido foi avaliada através do SAPS II com um valor de 31,8. Os principais motivos de admissão foram a instabilidade hemodinâmica (29.1%), ventilatória (28.4%) e o descalonamento de UCI (16.9%). Quanto aos principais diagnósticos destacam-se a insuficiência cardíaca (13,5%), a sépsis (7,8%), a pneumonia adquirida na comunidade (7,8%) e nosocomial (5.7%). A ventiloterapia não invasiva (VNI) é uma das principais valências na UCINT com 34,5% dos doentes submetidos a esta técnica. Cerca de 10% estiveram sob ventilação mecânica invasiva e 2,7% com traqueostomia. Foi utlizada ecografia à cabeceira como auxiliar de diagnóstico tendo sido realizados 35 ecocardiogramas e 92 avaliações “point-of-care”. Foi necessário escalar suporte em 5,4% dos doentes, na sua maioria, em contexto de choque séptico com falência multiorgânica (n=5), falência respiratória (n=3) e ARDS (n=2). Cerca de 21% dos doentes não tinham indicação para tratamento com recurso a medidas de suporte invasivo de órgão. A taxa de mortalidade na UCINT foi de 3% com uma mortalidade global de 10%. A grande maioria dos doentes tem alta para a enfermaria de Medicina (80,7%).
Da comparação dos dados apresentados (Alegre F. et al, 2015), conclui-se que a unidade de proximidade caracterizada assemelha-se a outras independentes da enfermaria. A optimização da utilização da VNI e reabilitação respiratória são elos terapêuticos fulcrais. Paralelamente, a ecografia tem vindo a ganhar um papel muito relevante na gestão do doente crítico. Este conceito permite o tratamento de doentes complexos e mais velhos, sem prejuízo na mortalidade global.