Ana Costa, Gabriela Pereira, Joana Mendonça, Margarida Rocha, Ussumane Embaló, Fernando Esculcas, Jorge Cotter
Homem de 51 anos, autónomo. Recorreu ao serviço de urgência com queixas de astenia, anorexia e perda ponderal estimada em 10% do peso corporal com cerca de 3 semanas de evolução. Desconhecia febre. Estava a trabalhar em Angola (construção civil) e referia ter realizado teste de gota espessa que teria sido negativo. Ainda assim, esteve medicado com antimaláricos durante 10 dias. Por persistência das queixas, foi novamente avaliado e medicado com amoxicilina-ac clavulânico para infecção do trato urinário, que cumpriu durante 10 dias.
No SU, doente apresentava-se febril e com diminuição do MV na base na auscultação pulmonar.
Analiticamente, apresentava elevação dos parâmetros inflamatórios, com padrão de citocolestase e coagulopatia. Na radiografia torácica realizada, apresentava elevação de hemicúpula diafragmática direita, sem imagens de infiltrados ou hipotransparências.
Realizou TC-TAP, que revelou abcesso hepático de grandes dimensões (14x10 cm).
Iniciou antibioterapia empiricamente com ceftriaxone e metronidazol e foi internado por abcesso hepático com insuficiência hepática associada.
Durante o internamento, foi submetido a drenagem percutânea do abcesso (após melhoria da coagulopatia) e posteriormente com colocação de dreno. Por persistência de temperatura sub-febril e pico febril, foi alterada antibioterapia para Piperacilina-tazobactam + metronidazol.
Apresentou boa evolução clínica e analítica, com remoção de dreno após 5 dias. Cumpriu 6 semanas de antibioterapia.
Do estudo realizado, sem isolamentos de agente infecioso nas hemoculturas, microbiológico de pus, microbiológico e parasitológico de fezes. Pesquisas de Giardia e de Entamoeba revelaram-se negativas.
Às cinco semanas de antibioterapia, apresentou leucopenia com neutropenia de novo, em provável contexto iatrogénico à antibioterapia, tendo sido adoptada uma atitude de vigilância. No entanto, já após suspensão da antibioterapia, apresentou agravamento analítico, apresentando neutropenia de 200/uL. Foram adoptadas medidas protectoras, tendo sido colocado em isolamento protector e iniciada terapêutica com estimulador das colónias de granulócitos. Apresentou boa resposta analítica 48h após inicio de filgrastim.
Teve alta orientado para CE de Medicina Interna para reavaliação clínica e imagiológica.