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SERRATIA MARCESCENS – UM MICROORGANISMO INCOMUM DE ENDOCARDITE INFECIOSA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P449 - Resumo ID: 1632
Centro Hospitalar de São João
Ana Ferreira, Fernando Freitas, Bruno Besteiro, Arsénio Barbosa, Miguel Carvalho, Pedro Rodrigues, Vanessa Chaves, António Lopes, Jorge Almeida
INTRODUÇÃO
A Endocardite Infeciosa (EI) deve ser exaustivamente pesquisada em doente com válvulas protésicas cardíacas e com febre não explicada.

CASO CLÍNICO
Homem, 61 anos, insuficiência cardíaca valvular (estenose aórtica) com função sistólica do ventrículo esquerdo preservada, fumador. Internado a 25/08 por edema agudo do pulmão com fibrilhação auricular de novo. Durante o internamento com o diagnóstico de EI por Streptococcus agalactiae isolado em hemocultura (HC), Ecocardiograma transesofágico (ETE) com endocardite da válvula mitral, medicado com gentamicina e ceftriaxone. Cirurgia de substituição da válvula mitral e aórtica por próteses biológicas às 4 semanas de antibioterapia (ATB). Cultura de válvulas e HC de controlo negativas – cumpriu mais 2 semanas de ATB e teve alta. Admitido em 19/11 por febre e emagrecimento. ETE com estrutura filiforme na vertente anterior de válvula mitral protésica, considerada possível vegetação e trombo na AE. Iniciada hipocoagulação e ATB empiricamente com gentamicina, vancomicina e rinfampicina. Múltiplos sets de HC, pré e pós inicio de ATB negativos. Persistência de quadro clínico e da estrutura filiforme valvular que após discussão com cirurgia Cardiotorácica considerou tratar-se apenas de fenómenos trombóticos pelo que foi suspensa ATB, mantendo hipocoagulação. Após estudo de síndrome constitucional, diagnosticado neoplasia de não pequenas células do pulmão estadio IIIB.
Novo internamento a 30/12 por acidente vascular isquémico da região occipital esquerda com hemianopsia homónima bitemporal. Persistência de febre. Repetiu ETE com documentação de diminuição de trombo na AE, sem sinais de vegetação, abcessos ou disfunção protésica. HC persistentemente negativas. A 08/01 por choque presumivelmente sético, sem foco infecioso identificado foi iniciada empiricamente vancomicina e gentamicina. HC posteriores com isolamento de Serratia marcescens. Suspensa vancomicina e associado ertapenem. Ecografia abdominal e TC toracoabdominopélvico sem foco de infeção, sem sinais de embolia. Repetido ETE sem alterações de novo. PET com hipercaptação anormal de F18-FDG na vertente inferior da válvula mitral, para além das adenomegalias metastáticas já conhecidas. Admitida EI por Serratia marcescens com boa evolução clínica, tendo cumprido ATB com gentamicina (2 semanas) e ertapenem (6 semanas).

DISCUSSÃO
A Serratia marcescens é um raro causador de EI, sendo a maioria dos relatos em indivíduos que usam drogas endovenosas ou com condições debilitantes crónicas: doença hepática crónica, imunossupressão, presença de linha arterial e catéter endovenoso. Neste caso a substituição de valvular, o uso de dispositivos intravasculares assim como o estado de imunossupressão induzido pela neoplasia foram os factores de risco identificados. Os autores salientam a dificuldade diagnóstica e o papel da PET quando a suspeita clínica é elevada e os exames mais comummente usados para o diagnóstico da EI são persistentemente negativos.