Adriana Paixão Fernandes, David Prescott, Ana Isabel Brochado, Margarida Pimentel Nunes, Inês Branco Carvalho, Isabel Montenegro Araújo, Beatriz Donato, Rita Sérvio, José Luis Ferraro, Salomão Fernandes, Olga Pereira, António Martins Baptista, José Lomelino Araújo
Introdução: A Espondilodiscite Infecciosa (EI) é uma infecção das estruturas do eixo vertebral, refletindo um quadro de infecção geralmente inoculada por via hematogénea, por si indicativo de maior fragilidade ou exposição do doente em questão. Dada a sua localização e probabilidade de ser originada de ou evoluir para infecção disseminada, a morbi-mortalidade pode ser significativa.
Objetivo: Caraterização dos doentes e respetivo internamento por EI.
Material e Métodos: Análise retrospetiva dos doentes internados por EI nos diferentes serviços do Hospital, no período de 2012 a 2018. Incluídos 23 doentes sucessivos, identificados através da codificação diagnóstica (IC-10), seguindo-se a consulta do respetivo processo clínico relativo ao período de internamento.
Resultados: foram admitidos 23 doentes com o diagnóstico de EI durante o período em estudo, os quais apresentavam uma idade mediana de 69 anos e 70% eram do género masculino. A maioria (56%) apresentava, pelo menos, um factor de risco para EI, sendo os três mais frequentes a imunossupressão (30%), infeção prévia/concomitante (26%) e diabetes mellitus (21%). O principal sintoma foi a raquialgia (87%), salientando-se a ausência de febre em 61%. O tempo médio até ao diagnóstico foi de 65 dias e a duração média de internamento 34 dias. O serviço de internamento foi a Medicina Interna em 91% e a Ortopedia em 9%. Em 17% dos doentes não foi identificado o agente microbiológico, sendo que em 50% destes foi realizada biópsia óssea que se revelou negativa. O Staphylococcus aureus multissensível foi o agente patogénico mais frequente (26%) e a coluna lombar a região mais acometida (61%). À admissão assinalava-se anemia em 78%, hiponatrémia em 35%, disfunção renal em 26%, proteína-C reativa média de 15 mg/dL e velocidade de sedimentação média de 87 mm/h. Verificaram-se complicações infecciosas em 74% e necessidade de intervenção cirúrgica em 35%. A duração média de antibioterapia foi de 55 dias. Cerca de 35% dos doentes foram readmitidos na sequência desta infeção e a mortalidade foi de 8.7%.
Conclusões: Os dados apresentados corroboram a complexidade semiológica e sintomática que, associado ao envolvimento sistémico, tornam o diagnóstico de EI desafiante. A abordagem da EI não se esgota na resolução infecciosa, carecendo de uma avaliação multidisciplinar dadas as co-morbilidades pré-existentes e repercussão multissistémica da EI. Por conseguinte, releva-se 1) o papel da Medicina Interna na abordagem desta entidade nosológica, nomeadamente na abordagem inaugural, no diagnóstico e resolução das complicações médicas associadas e 2) a colaboração multidisciplinar com a especialidade de Ortopedia, nomeadamente na instrumentação invasiva (diagnóstica e/ou terapêutica).