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UM SINAL CLINICO COMUM, UM DIAGNOSTICO RARO
Doenças oncológicas - E-Poster
Congresso ID: P710 - Resumo ID: 1659
Hospital Garcia de Orta
Alexandra Briosa, Andre Esteves, Despina Argyropoulou, Ana Broa

Introdução: A ascite como entidade clínica isolada é um motivo frequente de admissão no serviço de urgência. Apesar de a cirrose hepática ser a principal causa de ascite, em casos mais raros, esta pode ser de etiologia neoplásica secundária, nomeadamente ovário, estômago, pâncreas e cólon, ou até primária.

Caso clínico: Homem, 69 anos idade, reformado de atividade comercial, com antecedentes pessoais conhecidos de hipertensão arterial e consumo ligeiro de bebidas alcoólicas. Sem hábitos tabágicos ativos ou história de exposição ambiental conhecida.
Recorreu ao serviço de urgência por aumento progressivo do volume abdominal associado a emagrecimento (7 Kg) e sintomas de dispépticos, com cerca de dois meses de evolução.
À admissão apresentava-se hemodinamicamente estável, apirético, sem adenomegalias palpáveis, emagrecido, salientando-se a presença de volumosa ascite não tensa.
Havia realizado em ambulatório ecocardiograma transtorácico e a colonoscopia que não mostraram alterações. Porém a TC toracoabdominopélvica evidenciava não só ascite volumosa, como também um importante espessamento peritoneal, sem outras lesões. Analiticamente, a destacar a presença de anemia hipocrómica/microcítica ligeira (Hb 10,8 mg/dL) e trombocitose (plaquetas: 823 000), sem outras alterações de relevo. As serologias virais, o painel de autoimunidade e os marcadores tumorais foram negativos.
Foi realizada paracentese diagnóstica cujo resultado do exame citológico se revelou sugestivo (mas não diagnóstico) de etiologia neoplásica, salientando-se a presença de células mesoteliais. Perante a hipótese diagnóstica provável de carcinomatose peritoneal, e atendendo aos sintomas dispépticos do doente, foi realizada endoscopia digestiva alta que excluiu presença de eventual neoplasia gástrica. Posteriormente, a ressonância magnética abdominal permitiu excluir outros focos primários, assim como, a presença de lesões hepáticas de novo.
Perante estudo etiológico inconclusivo e suspeita crescente de neoplasia primária do peritoneu, foi realizada biópsia peritoneal ecoguiada, cuja análise citológica confirmou achados compatíveis com mesotelioma maligno epitelioide.
O doente foi orientado para consulta de Oncologia.

Conclusão: O mesotelioma primário maligno é uma neoplasia rara com origem nas células mesoteliais, nomeadamente pleura e peritoneu, cuja principal causa é exposição prolongada a asbestos. O seu curso insidioso e apresentação clínica inespecífica, tornam o seu diagnóstico difícil e tardio, conferindo um prognóstico reservado.