Maria Lima Costa, Giovana Ennis, António Grilo Novais, Mónica Teixeira, Sara Macedo, Tânia Batista, Jorge Correia, António Correia
A suspeita de endocardite infeciosa deve ser levantada em doentes com febre e/ou fatores de risco cardíacos relevantes. O atraso no diagnóstico e tratamento pode estar associado a complicações, incluindo regurgitação valvular, insuficiência cardíaca, eventos embólicos e sépsis.
Homem, 23 anos, portador de prótese valvular aórtica mecânica desde 2013, por cardiopatia congénita e medicado com varfarina, nesse contexto. Sem outros antecedentes relevantes ou outra medicação habitual. Recorre ao serviço de urgência por quadro de febre (39ºC) e prostração com 4 dias de evolução. A destacar tratamento dentário, 2 meses antes do início do quadro, sem profilaxia antibiótica.
À admissão febril, normotenso, prostrado, sem défices neurológicos focais ou sinais meníngeos. Do estudo complementar realizado analiticamente com leucocitose e neutrofilia e aumento de PCR e PCT. Sem alterações imagiológicas na radiografia de tórax. Colheu hemoculturas e urocultura e iniciou antibioterapia empírica com ceftriaxone. Foi admitido em internamento por síndrome febril para estudo.
Pela suspeita de endocardite realizou ecocardiograma transesofágico a relatar “disfunção de válvula aórtica de grau moderado a severo associado a “leak” perivalvular. Válvula mitral com aparente massa móvel aderente, mas de difícil valorização.”
Por isolamento de Streptococcus oralis nas hemoculturas da admissão iniciou antibioterapia dirigida com penicilina e gentamicina em D5 de internamento.
Manteve-se hemodimicamente estável e com apirexia sustentada.
Em D14 iniciou quadro de cefaleia intensa seguida de parestesias do hemicorpo direito. Realizou TC CE a relatar “hematoma parenquimatoso cortico-subcortical parietal esquerdo com cerca de 4 mm de diâmetro máximo e halo de edema perilesional.”. Por ter mantido hipocoagulação durante internamento e apresentar, INR de 2,63 foi medicado com vitamina K e admitido, para vigilância, na unidade de AVC. Por agravamento neurológico com depressão do estado de consciência e vómito em jacto repetiu controlo imagiológico, nesse mesmo dia, a revelar “aumento do volume da lesão hemorrágica, cerca de 6,7 cm, acompanhando-se de redução da amplitude dos sulcos hemisféricos esquerdos e deformação do sistema ventricular supra-tentorial, com herniação subfalcial com desvio de cerca de 7mm das estruturas medianas para direita”.
Nesse contexto foi abordado por Neurocirurgia, com drenagem do hematoma, e admitido na Unidade Cuidados Intensivos Polivalente, onde se encontra de momento.
Com este caso pretende-se alertar para a importância do diagnóstico e tratamento precoces desta patologia bem como do impacto e gravidade das suas múltiplas complicações.