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ESOFAGITE MEDICAMENTOSA GRAVE - QUANDO A ADIÇÃO A OPIÓIDES QUASE QUE MATA!
Doenças digestivas e pancreáticas - E-Poster
Congresso ID: P213 - Resumo ID: 1672
Hospital do Divino Espírito Santo
Magda Sofia Ventura, Mariana Santos, Miriam Cimbron, Paula Macedo, Clara Paiva
A esofagite secundária a fármacos é um problema conhecido, cuja incidência é de cerca de 3.9 em 100,000 doentes/ano. Sabe-se que estas alterações podem ser induzidas tanto por via sistémica como por lesão direta à mucosa. Alguns fármacos que induzem alterações diretas à mucosa incluem antibióticos (p.e. tetraciclinas), AINEs, cloreto de potássio e bifosfonatos. As manifestações mais comuns são dor epigástrica, odinofagia e disfagia; menos comummente, podem ocorrer hematemeses, dor abdominal ou emagrecimento.
Trata-se de um homem de 69 anos de idade, ex-fumador e com antecedentes de gastrojejunostomia em Y de Roux há mais de 20 anos por úlcera de etiologia desconhecida, sem toma de medicação habitual segundo o mesmo. Recorreu ao SU por quadro com 3 semanas de evolução e agravamento progressivo de edema dos membros inferiores, ortopneia, astenia e cansaço fácil. Sem febre, anorexia, perda ponderal, perdas hemáticas visíveis, palpitações, síncope, dor torácica ou abdominal. Ao exame objetivo, identificou-se fibrilação auricular (FA) com resposta ventricular rápida e anasarca, sem dor à palpação abdominal. Analiticamente, salientava-se anemia ferropénica grave (Hb 4,4g/dL, ferro sérico 6ug/dL, ferritina 5.1ng/mL, saturação de transferrina 7%), NT pro-BNP> 20000; em gasometria arterial, com acidose metabólica compensada com hiperlactacidemia de 4. Após confirmação de melenas por enema de limpeza, realizou endoscopia digestiva alta que revelou mucosa esbranquiçada ao longo de todo o esófago e subestenose no esófago cervical com laceração da mucosa após passagem, a sugerir refluxo gastroesofágico crónico/outra etiologia. Foi internado num Serviço de Medicina Interna por insuficiência cardíaca descompensada inaugural por anemia grave e FA de duração indeterminada. Durante o internamento, apurou-se com familiar que o doente tomava cronicamente entre 4-6 comprimidos/dia de Melhoral® (AAS+codeína) e Dolviran® (AAS+codeína+cafeína) porque “com esta medicação sentia-se sempre bem” sic, pelo que se assumiu hemorragia em contexto de esofagite crónica por salicilatos, em doente com adição de longa duração a opióide. Teve alta melhorado para a Consulta de Medicina Interna sob terapêutica otimizada para a insuficiência cardíaca, inibidor da bomba de protões e indicação para evicção da toma de Melhoral® e Dolviran®. Iniciou, 1 mês depois, anticoagulação, após melhoria endoscópica e da anemia.
Salienta-se o caso pela gravidade da apresentação clínica e pela importância de se colher a anamnese de forma pormenorizada, que pode carecer de confirmação por parte de familiares. No caso em questão, o doente não reconhecia a adição aos fármacos como um problema. A endoscopia digestiva alta, apesar de revelar frequentemente alterações inflamatórias inespecíficas, é o exame mais sensível na identificação da esofagite associada a fármacos e a identificação do fármaco causal é fundamental, uma vez que um dos aspetos mais importantes no tratamento destes casos é a sua evicção.