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OSTEOMIELITE CRÓNICA: INDICAÇÃO PARA ANTIBIOTERAPIA POR TEMPO INDETERMINADO?
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P583 - Resumo ID: 1674
Hospital de Vila Franca de Xira
Sofia Cruz, Bruno Ferreira, Andreia Ribeiro, Pedro Custódio, Ana Rita Gomes, Patrícia Ramos, Ana Oliveira, Marta Quaresma, José Barata
A osteomielite crónica é definida pela inflamação óssea, superior a 2 semanas de evolução, com evidência imagiológica de necrose óssea. Associa-se, por continuidade, às infeções dos tecidos moles não tratadas ou relaciona-se com a presença de fatores de risco, como dispositivos implantados. Na grande maioria o microrganismo isolado é o Staphylococcus aureus, enquanto que os bacilos Gram-negativos correspondem a 30% dos casos. O tratamento consiste na antibioterapia dirigida com necessidade, por vezes, de desbridamento cirúrgico.
Os autores reportam o caso de uma doente de 71 anos, com história pessoal relevante de valvuloplastia mitral por insuficiência mitral, complicada de pseudoaneurisma iatrogénico da aorta ascendente, com necessidade de colocação de prótese vascular em 2015.
Em 2016 apresentou primeiro episódio de osteomielite do esterno a Pseudomonas (P.) aeruginosa, confirmada por tomografia de emissão de positrões (PET) que também revelou suspeita de processo inflamatório na prótese vascular. Realizou nove meses de antibioterapia com ciprofloxacina com melhoria clínica, tendo repetido PET já sem evidência das alterações mencionadas.
Em 2017 foi internada por espondilodiscite a P. aeruginosa, tendo ficado com indicação para realização de ciprofloxacina por tempo indeterminado, dada a suspeita de manter foco infecioso a nível esternal ou prótese vascular (sem evidência de recidiva de osteomielite e sem condição operatória para revisão de esterno e prótese vascular).
Em agosto de 2018 é admitida por hemorragia subaracnoideia espontânea, associada a crise convulsiva que volta a apresentar em outubro de 2018 (já sem evidência de hemorragia), pelo que, por suspeita de iatrogenia, suspendeu a antibioterapia.
Novo internamento em novembro de 2018 por coleção supra-esternal, avaliada em tomografia computorizada torácica: coleção abecedada no manúbrio esternal, com projeção cutânea; esclerose moderada da cortical e subcortical epifisária e do manúbrio, irregularidade cortical e geodos, a relacionar com osteomielite crónica. Isolada novamente P. aeruginosa (sensível a ceftazidima e ciprofloxacina) em hemoculturas e exame bacteriológico do pus, tendo realizado drenagem da coleção supra-esternal e ciclo prolongado de antibioterapia (sete semanas) com ceftazidima, apresentando sustentada melhoria analítica (hemoculturas de controlo negativas) e imagiológica. Pela suspeita de manter foco infecioso no esterno ou na prótese vascular, não abordável cirurgicamente, teve alta medicada com ciprofloxacina por tempo indeterminado e com ajuste do antiepilético, encontrando-se atualmente clinicamente estável, sem sinais ou sintomas de recidiva infeciosa.
Este caso serve para assinalar que na osteomielite com impossibilidade de controlo de foco cirurgicamente, a antibioterapia de longa duração representa a única opção para diminuir as recidivas e complicações, apesar da possibilidade de emergência de futuros microrganismos resistentes, inerente a esta abordagem.