Rosana Maia, João Pais, Pedro Pinto, Miguel Costa, Duarte Silva, Edgar Torre, Carmélia Rodrigues, Diana Guerra
Introdução: O Clostridium dificille (CD) é uma bactéria anaeróbia, Gram positiva, produtora de toxinas, que coloniza a flora intestinal quando sujeita a fenómenos agressores. A infeção por CD (ICD) é uma das infeções associadas a cuidados de saúde mais frequentes, sendo uma causa importante de morbilidade e mortalidade.
Objetivo: Avaliação e comparação da incidência, fatores de risco (FR), sintomatologia, complicações da ICD, antes e após aplicação de protocolo de prevenção de infeção. Avaliação do impacto da referida intervenção.
Material e métodos: Trata-se de um estudo retrospetivo e comparativo. Foram incluídos doentes com internamento nos anos de 2008-2010 e de 2014-2016. Em 2010, efetuadas sessões de formação aos profissionais de saúde quanto à prevenção de ICD. Critérios de inclusão: idade superior a 18 anos e pesquisa de antigénio e toxina CD positiva. A pesquisa foi efetuada através da consulta de processos clínicos e a análise estatística utilizando o Microsoft Excel.
Resultados: Relativamente ao período de 2008-2010, a ICD foi diagnosticada em 32 doentes, a maioria internada no Serviço de Medicina (N=22), com uma média de idade de 78 anos. O tempo médio de internamento foi de 27 (máximo 81; mínimo 3) dias, e a maioria das infeções surgiu como intercorrência do internamento hospitalar (N=19). A manifestação clínica (MC) mais frequente foi a diarreia. Todos os doentes tinham presente pelo menos 1 FR - média de 2.75, sendo os mais prevalentes a idade e a antibioterapia recente. A maioria evoluiu sem complicações (N=25). Verificou-se uma taxa de mortalidade intra-hospitalar (TMI) de 25%. Relativamente ao período de 2014-2017 (após formação e aplicação de protocolo de prevenção), a ICD foi diagnosticada em 33 doentes, a maioria internada no Serviço de Medicina (N=25), com uma média de idade de 77 anos. O tempo médio de internamento foi de 28 (máximo 169; mínimo 1) dias, e a maioria das infeções surgiu como intercorrência do internamento hospitalar (N=25). A MC mais frequente foi a diarreia (N=28), seguida da febre (N=10). Todos os doentes tinham presente pelo menos 1 FR - média de 3.33, sendo os mais prevalentes a idade (N=25), a antibioterapia (N=28) e o internamento recente (N=18). A maioria evoluiu sem complicações (N=25), verificou-se um caso de megacólon tóxico e TMI de 24%. Comparando estes 2 períodos, verificou-se que a incidência de ICD tem um padrão flutuante (2008: 0.048%, 2009: 0.066%, 2010: 0.15%, 2014: 0.05%, 2015: 0.068%, 2016: 0.1%), mas não se denota uma diminuição da mesma. O impacto na mortalidade não parece ter sofrido alteração. O número de ICD associadas aos cuidados de saúde (N=18 -> 25)
Conclusões: Os fatores de risco associados ao desenvolvimento de ICD são principalmente aqueles que alteram a normal flora intestinal: antibioterapia, infeções gastrointestinais, idade > 65 anos e o internamento. A ICD é um problema crescente nos doentes internados, sendo pertinente a melhoria das medidas de prevenção e atuação.