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FEBRE INTERMITENTE POR CANDIDÍASE CUTÁNEA PERINEAL E VULVAR
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P531 - Resumo ID: 1687
Medicina Interna, ULSAM - Viana do Castelo, Portugal
José Costa Carvalho, Joana Couto, Carlos Ribeiro, Diana Guerra, Carmélia Rodrigues
Introdução:
A febre pode cursar com inúmeros distúrbios, desde causas benignas até situações ameaçadoras para a vida e desde causas agudas a crónicas. A etiologia infeciosa é, em regra geral, a mais comum, mas doenças neoplásicas ou inflamatórias também podem cursar com febre, normalmente com uma apresentação crónica ou recorrente.
A Candidíase cutánea e vulvar, sem doença invasiva, não é uma causa frequente de febre, não estando descrita na literatura esta associação.

Caso clínico:
Mulher de 78 anos, admitida por sépsis com ponto de partida em pneumonia da comunidade com disfunção renal e cardiovascular. Medicada com Ceftriaxone e Azitromicina com melhoria clínica e com resolução das disfunções de orgão.
Antecedentes de anemia por perdas ginecológicas secundárias a útero miomatoso.
Apesar de evolução clínica e analítica favorável com apiréxia sustentada e diminuição da proteína C reativa, ao 6º dia de internamento teve ressurgimento de febre intermitente e nova elevação de marcadores inflamatórios. Sem crescimento de agente etiológico nas hemoculturas da admissão. A doente negava qualquer queixa, nomeadamente tosse ou expectoração, queixas urinárias ou gastrointestinais, odinofagia, otalgia, artralgias ou alterações cutâneas e estava estável hemodinamicamente. Completou 7 dias de antibioterapia e optou-se por atitude expectante.
Por manter febre e parâmetros inflamatórios elevados apesar de estar assintomática, solicitado estudo etiológico que demonstrou velocidade de sedimentação de 122mm; serologias de vírus de imunodeficiência humana e hepáticos negativas; anticorpos antinucleares negativos; factores do complemento (C3 e C4), imunoglobulinas (A,G e M) e factor reumatóide dentro do intervalo de referência; electroforese de proteínas séricas sem picos monoclonais; 3 hemoculturas sem crescimento de agentes; tomografia computorizada do tórax, abdómen e pelve que não mostrou alterações relevantes.
Apesar de a doente manter ausência de queixas, mantinha febre intermitente e elevação de parâmetros inflamatórios pelo que se completou exame objectivo com exame ginecológico que mostrou prolapso uterino e candidíase vulvar e da pele adjacente que a doente referiu já ser conhecido e que apesar de lhe parecer agravado, não valorizava. Solicitada avaliação por Ginecologia que descartou complicações e necessidade de correcção cirúrgica.
Iniciou terapêutica com fluconazol oral (2 tomas de 150mg a cada 72 horas) e econazol tópico em creme e pó com resolução da febre e normalização de parâmetros inflamatórios.

Discussão:
A melhor lição a retirar deste caso é que um exame físico exaustivo, mesmo na ausência de queixas, é por vezes a melhor ferramenta que um médico possui. Apesar disso, salienta-se a ausência de descrições na literatura de casos de febre com origem semelhante, sendo que aqui, a infecção poderá ter sido agravada pela antibioterapia prévia e pela supressão imunológica após episódio de sépsis. A prova terapêutica reforçou a hipótese diagnóstica.