Ana de Matos Valadas, Beatriz Valente Silva, Daniel Costa Gomes, Inês SF da Silva
Introdução: A Gripe constitui uma patologia viral que afecta predominantemente as vias respiratórias. Verificou-se recentemente um pico de Gripe A, conhecido pela pandemia de 2009 e que se tornou numa gripe sazonal sem necessidade de cuidados especiais de isolamento segundo a DGS, apesar das propriedades bioquímicas que o tornam mais virulento e patogénico do que o tipo B.
Objectivo: Comparar a morbilidade e mortalidade dos doentes numa enfermaria de Medicina Interna com diagnóstico de infecção a vírus Influenza nos picos de Gripe de 17/18 e 18/19.
Material e Métodos:
Estudo retrospectivo baseado na consulta dos processos clínicos dos doentes internados nos picos de Gripe 17/18 e 18/19 (semana 46 à semana 7 do ano seguinte). Foram incluídos os doentes com pesquisa positiva de Influenza em exsudado nasofaríngeo, tendo sido comparados os dados demográficos, vacinais, o tipo e subtipo de vírus Influenza, o número de dias com insuficiência respiratória, a saturação periférica de oxigénio (SpO2) mínima, o valor máximo de lactato e o número de óbitos. Foi considerada como diferença estatisticamente significativa um valor de p<0,05.
Resultados:
Foram incluídos 37 doentes. No pico 17/18 verificou-se o isolamento de Influenza em 21 doentes, com predomínio do género feminino (67%) com idade média de 74 anos (18 dos 21 doentes com mais de 65 anos), comparativamente ao isolamento em 16 doentes no pico 18/19, com o mesmo predomínio de género (69%) e com a idade média de 75 anos (11 dos 16 doentes com mais de 65 anos). No pico 17/18, 24% dos doentes eram portadores de doença crónica pulmonar, comparativamente com 13% no pico 18/19. Verificou-se que no pico 17/18 houve 29% de doentes com isolamento de Influenza A (restantes com Influenza B), enquanto que 100% dos doentes no pico 18/19 tiveram isolamento de Influenza A. No pico 17/18 apenas 10% fizeram a vacina da Gripe vs 31% no pico 18/19.
Não se verificaram diferenças estaticamente significativas entre os dois picos no que respeita a critérios de gravidade, nomeadamente no número de doentes com SpO2 < 92% (80% em 17/18 vs 75% em 18/19), número de doentes com hiperlactacidémia (31,6% em 17/18 vs 37,5% em 18/19) ou número de doentes que apresentaram mais do que 5 dias de insuficiência respiratória (43,8% em 17/18 vs 37,5% em 18/19). Verificou-se 1 óbito causado por Gripe em cada pico.
Conclusões:
Ao contrário do que seria de esperar pela totalidade de infecção a Influenza A dos doentes internados no pico 18/19, não se verificou uma diferença significativa na morbilidade e mortalidade relativamente ao pico 17/18 onde predominou a infecção a Influenza B. Contudo, no pico 17/18 houve uma maior percentagem de doentes portadores de doença crónica pulmonar e menor percentagem de doentes vacinados. Conclui-se, portanto, que o tipo de vírus Influenza não é o único factor determinante na morbilidade e mortalidade dos doentes internados por Gripe, devendo ser tidos em conta outros factores demográficos e clínicos.