José Eduardo Mateus, Rui Baptista, Sílvia Monteiro, Francisco Gonçalves, Lino Gonçalves
Introdução: Os sobreviventes de enfarte agudo do miocárdio (EAM) apresentam um risco elevado de eventos cardiovasculares recorrentes, como enfarte, arritmias e morte cardiovascular. A disfunção ventricular esquerda é o mais importante fator preditor de mortalidade após um EAM.
Objetivo: Caracterizar os resultados de uma população de doentes com baixa fração de ejeção (FE) após EAM e avaliação dos outcomes clínicos (mortalidade e re-internamento).
Material e Métodos: Estudo retrospetivo analítico dos doentes internados por EAM com FE inferior a 40% numa Unidade de Cuidados Intensivos Coronários (UCIC) entre 2012 e 2016. A avaliação estatística foi realizada através do SPSS®, utilizando os seguintes testes: Qui-quadrado, t de student e ANOVA.
Resultados: Durante este período foram internados 4090 doentes na UCIC, dos quais 2303 (56,3%) por EAM. Destes, 339 (14,7%) tinham FE à admissão inferior a 40% (média 30,4%). Este grupo de doentes era predominantemente do sexo masculino (72,9%), tinha uma idade média de 70,4 anos, a maioria foi internada por EAM sem elevação do segmento ST (53,7%), hipertensos (74,1%) e com dislipidémia (85%). A taxa de mortalidade foi de 35,5%: 11,2% durante o internamento (todos por complicações do EAM), 14,2% aos 3 meses (43,8% por infeção e 43,8% por complicações do EAM), 18,3% aos 6 meses (45,2% por infeção) e 23,9% ao ano (48,1% por infeção, p<0,05). Os doentes hipertensos eram significativamente mais velhos (72,4 vs 66,6 anos, p<0,05), bem como os com dislipidémia (71,1 vs 64,6 anos, p<0,05). A maioria dos fumadores (74,4%) tinha elevação do segmento ST (p<0,001). Os doentes que faleceram tinham menor FE (28 vs 32%, p<0,001), sobretudo os que faleceram durante o internamento (26 vs 30%, p<0,05). A taxa de re-internamentos foi de 2%.
Conclusões: Cerca de 1 em cada 3 doentes com FE inferior a 40% após um EAM acabam por falecer, sobretudo nos primeiros 3 meses após o evento, enquanto que outros fatores parecem assumir um papel mais relevante no prognóstico a médio-longo prazo (6 e 12 meses). Os fatores de risco individual (idade e co-morbilidades associadas) presentes antes do EAM deverão ser tidos em consideração na avaliação prognóstica e alvo de intervenção dirigida.