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ESTRONGILOIDÍASE - UMA CAUSA INCOMUM DE EOSINOFILIA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P472 - Resumo ID: 1705
Centro Hospitalar do Baixo Vouga
Joel Pinto, Paulo Almeida, Fani Ribeiro, Flávio Godinho, Daniela Meireles, Rafaela Araújo
Introdução: A infeção por Strongyloides stercoralis (Ss) é uma parasitose com evolução habitualmente crónica e assintomática, comum em regiões tropicais, ocorrendo esporadicamente em áreas de clima temperado como no sul da Europa. Pode dar manifestações gastrointestinais, cutâneas ou pulmonares que persistem durante anos, apresentando-se frequentemente apenas como eosinofilia (Eo) assintomática.

Caso Clínico: Mulher de 61 anos, residente em ambiente rural e consumidora de água de poço não tratada, com antecedentes de asma e internamento há 8 anos por dor abdominal, febre e ascite, cujo estudo etiológico foi inconclusivo.
Recorre ao SU por dor abdominal difusa e incapacitante com 1 mês de evolução, persistente, sem náuseas, vómitos, alterações do transito intestinal, febre ou outras queixas. Ao exame objetivo apresentava abdómen mole e depressível, sem defesa, apirética e hemodinamicamente estável. Analiticamente com leucocitose (29.1x109/L) e Eo (19.79 x109/L) marcadas, amílase e lípase normais, sem citocolestase e discreta elevação da proteína C reativa (PCR). Na tomografia computadorizada (TC) apresentava discreto derrame peritoneal, sem outras alterações relevantes.
Ficou internada no serviço de medicina para estudo, com avaliação analítica seriada a revelar Eo em redução progressiva, discreta elevação da velocidade de sedimentação (41mm) e PCR, sem citocolestase, imunoglobulinas normais, VDRL e serologias víricas negativas, calprotectina, exame bacteriológico e parasitológico de fezes negativo e pesquisa de Criptosporidium, Giardia e Toxocara canis negativas. No esfregaço de sangue periférico apresentava 43% de eosinófilos, sem outras alterações. Realizou endoscopia digestiva alta onde foi visualizada mucosa do corpo e antro edemaciadas e hiperemiadas, tendo sido realizadas biópsias (Bp) das quais o estudo histológico revelou pangastrite crónica. A pesquisa de Helicobacter pylori (HP) foi positiva. Realizou ainda colonoscopia que não revelou alterações relevantes, tendo sido feitas Bp no colon direito e esquerdo, com estudo histológico compatível com colite eosinofílica.
Iniciou terapêutica para irradicação de HP, mantendo queixas de desconforto abdominal persistentes. Foi então pesquisada a imunoglobulina G para Ss, com resultado positivo, finalizando o diagnóstico de estrongiloidíase com atingimento gastrointestinal. Completou terapêutica com Ivermectina, mantendo-se desde então assintomática e com normalização da Eo.

Discussão: O Ss é um dos poucos parasitas capazes de completarem inteiramente o seu ciclo de vida num hospedeiro humano, promovendo a autoinfeção, que lhes permite persistir no organismo durante décadas. A infeção crónica é muitas vezes assintomática, podendo dar manifestações clinicas episódicas ao longo do tempo, tendo a pesquisa do parasita nas fezes uma sensibilidade muito baixa. Com o caso apresentado, os autores salientam a importância da pesquisa de serologias para este parasita no estudo de casos de Eo.