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HEPATITE TÓXICA: UM CASO RARO
Doenças hepatobiliares - E-Poster
Congresso ID: P409 - Resumo ID: 1708
Centro Hospitalar Universitário do Algarve
Micael Mendes, Luis Vicente, Francisco Velasco, Cristina, Horácio Guerreiro
A lesão hepática causada por tóxicos (LHT) é um raro efeito adverso de tóxicos, como fármacos, que podem levar a icterícia, falência hepática e até mesmo morte. A intoxicação por paracetamol, antibioticos e produtos de herbanário estão entre os agentes mais comuns de LHT no mundo ocidental. A LHT é um diagnóstico de exclusão o que implica uma investigação exaustiva de outras causas para a lesão hepática. Os autores apresentam um caso clínico de um doente com lesão hepática de provável etiologia tóxica.
Doente do sexo masculino, 19 anos de idade, natural do Brasil, residente em Portugal desde há 2 meses, estudantes, com antecedentes pessoais de insónia medicado com cloropromazina desde 06/2019. Recorre ao SU no dia 17/01 por quadro de icterícia com cerca de um mês de evolução acompanhado por astenia e prurido. Referia ainda colúria e acolia. Ao exame objetivo icterícia, sem encefalopatia hepática, sem outras alterações. Analiticamente destaca-se INR 1.1; AST 71U/L; ALT 65U/L; FA 272U/L; bilirrubina total 40.2mg/dL; direta 30.4mg/dL. Realizou ainda ecografia abdominal: fígado de morfologia e dimensões no limite superior da normalidade. Não se observa evidente dilatação das vias biliares intra ou extra-hepáticas. Optado pelo internamento do doente para estudo. Doente ainda internado, mantendo icterícia marcada, colúria e anúria. Nas análises realizadas ao longo do internamento descida dos valores de bilirrubina total até 24mg/dL e direta até 19mg/dL a 08/02. Do estudo realizado no internamento, serologias negativas e estudo autoimune negativo. Realizou ainda CPRM (22/01): Ausência de dilatação das vias biliares intra ou extra-hepáticas. Vesícula biliar em vacuidade. Ausência de dilatação do ducto pancreático. Como intercorrência, refere-se queixas de tosse não produtiva. Doente iniciou ibuprofeno trazido pela mãe, sem conhecimento da equipa médica e de enfermagem, que terá mantido durante 1 semana e que coincidiu com novo aumento de bilirrubina total para 35mg/dL e direta para 27mg/dL. De momento doente a realizar apenas terapêutica de suporte, com INR estável em 1.1, bilirrubina total 34mg/dL.
Perante a ausência de outras causas para a lesão hepática, nomeadamente viral, autoimune ou infiltrativa, assumido como diagnóstico mais provável LHT secundária a toma de cloropromazina. A cloropromazina é um agente antipsicótico, anteriormente frequentemente prescrito, mas agora raramente usado. Alterações nos testes hepáticos são comuns com a toma de cloropromazina, com subida das aminotransferases habitualmente auto-limitadas e assintomáticas. A lesão hepática colestática é também frequente, atingindo cerca de 1/500 doentes, apresentando-se habitualmente com icterícia, que se pode tornar prolongada em até 7% dos casos. Nos doentes com colestase crónica, muitos apresentam melhoria gradual, embora a cirrose biliar tenha sido reportada. O tratamento baseia-se na interrupção do agente causador da LHT e em terapêutica de suporte.