Paulo Almeida, Daniela Meireles, Diana Carvalho, Inês Zão, Marta Oliveira, Clarinda Neves, Carla Matias, Eliana Araújo, Rosa Jorge
Introdução: Os inibidores da bomba de protões (IBP) constituem uma das classes farmacológicas mais prescritas. Estudos prévios mostraram que a sua prescrição hospitalar é frequentemente inadequada.
Objetivo: Avaliação do impacto de um protocolo de apoio à prescrição (PAP) de IBP num Serviço de Medicina Interna (SMI) relativamente à frequência, indicações e custos económicos da prescrição de IBP.
Material e Métodos: Estudo prospectivo longitudinal. Na primeira fase, procedeu-se à recolha das variáveis definidas através da análise de processos clínicos dos doentes internados num SMI e medicados com IBP, durante novembro de 2015. Formulou-se como critério de exclusão a terapêutica prévia ao internamento com IBP e definiram-se indicações para o seu uso apropriado. Na segunda fase, apresentaram-se os resultados e elaborou-se um PAP, sendo efetuada uma formação no SMI a 26/10/2016. Na terceira fase, repetiu-se a recolha das mesmas variáveis em doentes com os mesmos critérios de inclusão e exclusão durante período homólogo (novembro/2016). Análise estatística com SPSS, definindo-se nível de significância p<0,05.
Resultados: Na primeira fase, de 222 admissões, incluíram-se 101 doentes que iniciaram IBP no internamento (56 homens (55,4%); idade média 76,9±14,3anos; média da escala de Rankin modificada (mRS) 2,7±1,8). Na terceira fase, de 229 admissões, incluíram-se 87 doentes que iniciaram IBP no internamento (40 homens (46,0%); idade média 76,6±14,3anos; média da mRS 2,6±1,9). Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas nas variáveis de caracterização demográfica de ambas as amostras. Antes do PAP, apenas 56,4% dos doentes foram medicados correctamente com IBP (15,8% com indicação terapêutica (hemorragia do trato gastrointestinal: 55,6%), 70,2% indicação profilática absoluta; e 14,0% indicação profilática relativa). Após o PAP, 79,3% foram bem medicados com IBP (17,4% com indicação terapêutica (gastrite: 66,7%); 73,9% indicação profilática absoluta; e 8,7% indicação profilática relativa). O teste Qui-quadrado demonstrou existirem diferenças estatisticamente significativas quanto ao uso de IBP entre as duas amostras (p=0,001). Relativamente ao uso inadequado da via endovenosa naqueles com uso apropriado de IBP, verificou-se em 61,9% (26) antes do PAP e em 49,0% (25) depois. A prescrição inadequada de IBP implicou custos de 353,1€ antes do PAP e de 230,64€ depois. Dos doentes que mantiveram a prescrição de IBP para ambulatório, 70,6% não tinham indicação na primeira fase, sendo que apenas 26,7% não a tinham na segunda. Apesar disso, verificou-se que dos doentes que tiveram alta sem IBP, 16,1% da primeira amostra tinham indicação, assim como 60,0% da segunda.
Conclusões: A implementação de um PAP de IBP tem impacto significativo na adequação da prescrição, reduzindo custos e potenciais efeitos adversos. Contudo, poderá implicar a subterapêutica de doentes com indicação, recomendando-se monitorização e atualização da sua aplicação.