Centro Hospitalar do Médio Ave

Mulher, 84 anos de idade, com múltiplos fatores de risco vascular. Antecedentes de doença renal crónica estadio 3a, insuficiência cardíaca, doença cerebrovascular sem sequelas e anemia ferropénica. Realizou ecocardiograma transtorácico em ambulatório que mostrava dilatação ligeira da aurícula esquerda, dilatação da aorta ao nível da raiz, seios de valsalva e junção sinotubular; paredes ventriculares com hipertrofia concêntrica de grau ligeiro e de aspecto mosqueado; insuficiência mitral e tricúspide ligeiras; função sistólica biventricular conservada; disfunção diastólica do tipo III; imagem extra-cardíaca com compressão parcial da aurícula esquerda (sem compromisso hemodinâmico). Realizou tomografia computorizada torácica para esclarecimento, que descrevia volumosa hérnia do hiato esofágico, contendo a totalidade do estômago e parte do cólon transverso.
Discussão: A maioria das indicações para a realização de um ecocardiograma incide na avaliação da anatomia e função cardíacas. No entanto, numerosas condições extra‐cardíacas traduzem-se indiretamente por alterações do aspecto ecocardiográfico, e, apesar de não refletirem propriedades do miocárdio, podem confundir-se com elas. Exemplos destas situações são a embolia pulmonar, insuficiência respiratória aguda, e patologia do mediastino com compressão direta do miocárdio (tumores, hérnias de conteúdo abdominal e derrame pleural). Sendo o ecocardiograma transtorácico um exame de uso alargado, é essencial a atenção para estas condições pelos profissionais envolvidos tanto na avaliação cardíaca de rotina como no contexto de emergência, para optimizar a sua capacidade diagnóstica.