Josiana Duarte, David Campoamor, Tiago Fiúza, Paula Pestana, Henrique Rita, José Sousa e Costa
Os análogos peptídicos glucagon-like (GLP1) são uma classe de fármacos usada no tratamento da diabetes mellitus tipo 2 que mimetiza a hormona endógena GLP1. A GLP1 regula os níveis de glucose através da estimulação da secreção de insulina de uma forma dependente da glicose, diminuindo a secreção de glucagon, atrasando o esvaziamento gástrico e promovendo a saciedade. O interesse no tratamento individualizado da diabetes mellitus tipo 2 usando vários agonistas dos recetores GLP1 tem vindo a crescer nos últimos anos.
Apresenta-se um estudo retrospetivo em que foram analisados os doentes que em 2018 estavam sobre tratamento com GLP1, na consulta de Diabetes. Dos 566 doentes seguidos nessa consulta, 29 estavam sob terapêutica com GLP1, 8 com exenatide e 21 com liraglutide. 19 eram do sexo feminino, 10 masculino; com uma média de idades de 62 anos. O tempo médio de evolução da diabetes era de 11 anos. A maioria dos doentes estava medicada concomitantemente com insulina (83%), 69% com biguanidas e 34% dos doentes estavam também medicados com inibidores do SGLT2 (sodium-glucose co-transporter 2). A média da HbA1c antes de iniciarem tratamento com GLP1 era de 9.2%, de 8.8% aos 6 meses e 8.25% ao ano. À semelhança de estudos anteriores em que aos 24 meses houve uma redução média da HbA1c que chegou ao 1.2%, no nosso estudo houve uma redução que chegou aos 0.95%. Houve uma redução média do peso ao ano de 5 Kg o que está de acordo com dados da literatura. Os doentes que iniciaram este tipo de tratamento apresentavam IMC médio de 38Kg/m2. O peso médio inicial era de 90 Kg, 89Kg aos 6 meses e de 85Kg ao ano. Os efeitos secundários incluíram efeitos gastrointestinais, nomeadamente náuseas, vómitos e diarreia. Não foram registadas hipoglicémias para esta classe de agentes.
As variáveis contínuas foram comparadas através do teste T de Student. Da análises dos dados concluiu-se que existe diferença estatisticamente significativa entre a HbA1c prévia e HbA1c aos 6 meses e entre HbA1c prévia e HbA1c ao ano (p valor < 0.05). O mesmo acontece com o peso, uma vez que existe diferença estatisticamente significativa entre o peso prévio e o peso aos 6 meses assim como entre o peso prévio e o peso ao ano (p valor < 0.05). Conclui-se ainda que os dados vão de encontro a outros estudos já publicados, nomeadamente no que diz respeito à redução da HbA1c e do peso.
Assim sendo, os agonistas dos recetores do GLP1 são opções eficazes e seguras como tratamento de segunda linha da diabetes mellitus tipo 2. Devemos assim individualizar o tratamento dos nossos doentes com diabetes, vencendo a inércia e procurando o melhor ou a melhor combinação de fármacos para cada doente tendo em conta as caraterísticas individuais de cada um.