23

24

25

26
 
ENCEFALITE VIRAL: UM DIAGNÓSTICO A NÃO ESQUECER
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P502 - Resumo ID: 1733
Hospital Pulido Valente, Centro Hospitalar Lisboa Norte
Marta Freixa, Cláudia Varandas, Diana Buendía Palacios, Joana Barbosa Rodrigues, Sara Úria, Glória Nunes da Silva
INTRODUÇÃO: As alterações agudas da consciência representam um desafio diagnóstico pela diversidade de patologias possíveis e a gravidade eventualmente associada.
CASO CLÍNICO: Homem, 73 anos, hipertenso, Venezuelano, no Algarve há 3 semanas, tem dispneia súbita e pré-sincope em viagem de avião, pelo que é enviado ao Serviço de Urgência. Apresentava-se vigil e orientado, sem alterações no exame objectivo, excepto temperatura timpânica de 38ºC. Por suspeita de tromboembolismo pulmonar, realiza angio-TC tórax que exclui. Posteriormente tem perda súbita da consciência com incontinência de esfíncteres sem movimentos involuntários, com recuperação rápida da consciência com lentificação motora e amnésia. Laboratorialmente destacava-se elevação de PCR 8,73 mg/dL e défices iónicos (potássio 3 mmol/L, magnésio 0,6 mmol/L, cálcio total 6 mg/dL). Realiza TC CE com lesão expansiva selar, sugestiva de macroadenoma da hipófise e sinais de sinusite aguda. Assumiu-se alteração da consciência por alterações metabólicas e é internado em Serviço de Medicina Interna. Nas primeiras 24 horas, com níveis iónicos normalizados, persistia lentificação motora, amnésia para factos recentes, para além de rigidez da nuca e movimentos mandibulares involuntários. Realizou-se punção lombar com líquor límpido e exame citoquímico sem alterações. Por impossibilidade de realização imediata de RM CE e mantendo-se suspeita de infecção viral do sistema nervoso central (SNC), iniciou aciclovir. Cumpriu ainda amoxicilina/ácido clavulânico por sinusite aguda. Uma semana depois, com melhoria neurológica, embora lenta, realiza RM CE com evidência de focos de desmielinização periventricular e confirmação de macroadenoma da hipófise com extensão lesional aos seios cavernosos bilateralmente. Realizou ainda electroencefalograma com actividade lenta, focal, fronto-temporal, bilateral e assíncrona. Posteriormente a pesquisa de vírus no líquor foi positiva para possível infecção por flavivírus. A evolução neurológica foi favorável, mantendo no entanto amnésia.
Do estudo hormonal do macroadenoma da hipófise, os doseamentos (prolactina, FSH, LH, ACTH, IGF-1) foram normais. Aguardava avaliação por neuroftalmologia para decisão cirúrgica mas, por sua vontade, regressou à Venezuela sem possibilidade de repetição de serologias.
DISCUSSÃO: Com o resultado do líquor, considerou-se que a causa provável de alteração aguda da consciência foi encefalite viral a flavivírus, em doente com contexto epidemiológico (casos descritos no Algarve e Venezuela). Apesar de doente imunocompetente, das alterações iónicas iniciais e exame citoquímico de líquor normal, manteve-se a suspeita de infecção viral do SNC, com início de aciclovir. Apesar de não existir terapêutica definida para os casos de encefalite por flavivírus, na impossibilidade de exclusão imediata por imagem de lesões suspeitas, nomeadamente de infecção herpética, é crucial a decisão rápida da terapêutica pelas implicações que tem no prognóstico.