INTRODUÇÃO: As massas hepáticas podem traduzir processos de diferentes etiologias, frequentemente sem caráter de malignidade. O colangiocarcinoma é um tumor das vias biliares que se pode apresentar como uma massa intra-hepática. A sua incidência é baixa, tem sintomas inespecíficos e pode ter invasão loco-regional, o que condiciona um pior prognóstico.
CASO CLÍNICO: Mulher de 41 anos, autónoma, brasileira a residir em Portugal, com história de hepatite B, negando tabagismo ou alcoolismo, mas sem seguimento médico regular. Recorre ao Serviço de Urgência por quadro de dor ao nível do hipocôndrio direito com intensidade 10/10, de agravamento progressivo na última semana, sem fatores precipitantes ou de alívio, acompanhada de diarreia (4 dejeções/dia), sem sangue, muco ou pus. Referia apenas há cerca de um ano sensação de picada na mesma região, intermitente, associada a náuseas, enfartamento precoce e anorexia.
Ao exame objetivo destacava-se bom estado geral e palpação dolorosa do hipocôndrio direito, com sinal de Murphy vesicular positivo. Na avaliação complementar salientava-se: transaminases normais, tempo de protrombina 12,2 segundos (INR 1,1), eletroforese das proteínas normal e proteína C reativa 0,51mg/dL; carga viral HBV 26IU/ml; antigénio HBs 538IU/ml, anticorpo anti-Hbs, IgM anti-HBc, anti-VHC e anti-VIH1/2 negativos; alfafetoproteina, CA 125 e CYFRA-21 normais. A ecografia abdominal revelou “massa de 6cm, heterogénea, de contornos lobulados, com focos de calcificação...obliteração dos vasos adjacentes”, a TC abdominal mostrou “fígado com captação heterogénea do contraste envolvendo os segmentos VIII,V,IV,VII e VI; foco maior com 112x66mm” e a RMN do abdómen superior “volumosa lesão/confluência de lesões hepáticas envolvendo os segmentos IV,V e VIII com 130x66x145mm”. Foi realizada biópsia que objetivou “infiltração por adenocarcinoma bem diferenciado (células positivas para CK7 e negativas para CK20, CDX-2, TTF-1 e HepPar), não permitindo distinguir colangiocarcinoma versus metástases.”
Após reunião multidisciplinar (com Cirurgia, Gastroenterologia e Oncologia), foi admitido como diagnóstico provável colangiocarcinoma intra-hepático e, por não ser possível resseção cirúrgica dada a metastização ganglionar, foi decidida realização de terapêutica sistémica com intuito paliativo (cisplatina e gemcitabina). Após 6 meses, a doente permanece em tratamento, com boa tolerância e razoável qualidade de vida.
DISCUSSÃO
A cirurgia é considerada o único tratamento curativo do colangiocarcinoma. Contudo, aquando do diagnóstico, a maioria dos doentes já apresenta invasão local e mesmo metastização, que conduzem a pior prognóstico e impossibilitam a sua ressecção cirúrgica. Neste caso, trata-se de uma doente jovem, com um tumor de crescimento lento e insidioso, com tardia repercussão no seu estado geral. Daí a relevância da “educação para a saúde”, ressalvando a valorização precoce de sintomas e o seguimento médico regular.