Ana Ferro, Ana Catarina Silva, Ana Paula Vaz, Inês Chora
Homem de 51 anos, com antecedentes de quilotórax no passado e bronquiectasias retráteis por pleurectomia esquerda, recorreu ao Serviço de Urgência por agravamento do padrão habitual de dispneia, tosse produtiva com expetoração mucopurulenta, por vezes raiada de sangue, febre e dispneia para esforços progressivamente menores, bem como dor e tumefação na região cervical esquerda. À admissão, eupneico, com sons respiratórios diminuídos na base esquerda e presença de tumefação na região supraclavicular esquerda de consistência esponjosa, indolor, sem sinais inflamatórios. Do estudo efetuado, gasimetria sem insuficiência respiratória, análises com elevação de parâmetros inflamatórios, Tomografia computorizada (TC) torácica com ´moderado enfisema subcutâneo cervical e torácico esquerdos e ligeiro pneumomediastino´. Assumido pneumomediastino e infeção de bronquiectasias, tendo sido internado e iniciada antibioterapia.
Durante o internamento, foi excluída perfuração esofágica e foi realizada nova reavaliação imagiológica, com TC e ressonância magnética torácicas, que mostrou a ´múltiplas lesões nodulares, polilobuladas, com finos septos, compatíveis com linfangiectasias mediastínicas´. O doente apresentou evolução clínica favorável, com excelente resposta à oxigenoterapia e antibioterapia, com resolução do quadro. Foi assumido pneumomediastino secundário a bronquiectasias / linfangiectasias infetadas, em doente com extensa doença pulmonar sequelar a pleurectomia.
O pneumomediastino é um evento raro, definido pela presença de ar no mediastino. Pode ser espontâneo (síndrome de Hamman) ou secundário, podendo ocorrer após trauma, infeções intratorácicas, intervenções recentes na árvore traqueobrônquica ou esófago, ou perfuração do trato gastrintestinal.
Este caso expõe uma complicação rara em doente com doença pulmonar estrutural extensa, que, entre os diferentes tipos de pneumomediastino, se associa a pior prognóstico dada a doença pulmonar pré-existente.