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MENINGITE ASSÉPTICA POR LEPTOSPIRA – UM CASO ATÍPICO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P454 - Resumo ID: 1751
Hospital de Braga
Marta Braga Martins, Luís Monteiro Dias, Rosa Macedo Carvalho, Céu Rodrigues, Vânia Gomes, Carlos Capela
Introdução: A leptospirose é uma zoonose que afecta comumente os países tropicais (incidência anual de 10 casos por 100.000 habitantes a nível mundial). As manifestações neurológicas desta doença são raras, e classicamente associam-se a disfunção hepatorrenal. Das manifestações neurológicas possíveis, a meningite asséptica é a mais comum.

Caso clínico: Relata-se o caso de um homem de 76 anos com antecedentes pessoais de diabetes mellitus tipo 2. Foi trazido ao Serviço de Urgência por um quadro de obnubilação, desorientação, períodos de agitação, fraqueza dos membros inferiores e astenia. Segundo o familiar terá referido quadro autolimitado de dor abdominal generalizada, sem febre ou exantema, uns dias antes. Vivia em meio rural, com contacto frequente com diversos animais como vacas, porcos e ratos. Ao exame físico, apresentava rigidez terminal da nuca e quando sentado tendia a inclinar a cabeça para a direita. Sem fraqueza muscular objetivável, mas vencendo a gravidade apenas por alguns segundos. Restante exame físico sem alterações. Analiticamente, com proteína C reativa de 188 mg/L e trombocitopenia de 86.000/µL. Sem disfunção renal ou hepática. A tomografia computorizada cerebral não revelou lesões agudas. A punção lombar mostrou proteinorráquia (0.73 g/L) e ligeira pleocitose (20 células, das quais, 4 linfócitos e 2 neutrófilos). Ficou internado na Medicina Interna para estudo complementar após o início de antibioterapia empírica em doses meníngeas de ceftriaxone e vancomicina, e também aciclovir. Tendo em conta a ausência de clínica a favor de meningite bacteriana, características do líquor pouco a favor de encefalite, e a negatividade das serologias víricas no líquor, foi suspenso o tratamento em D2 de internamento. Concomitantemente, decidido alargar o estudo etiológico do quadro neurológico, predominantemente confusional. Verificou-se positividade para anticorpos anti-leptospira IgM. Assim foi assumido o diagnóstico de meningite por leptospira e reiniciada antibioterapia com ceftriaxone em dose meníngea. À data da alta, ao sétimo dia, verificada regressão do quadro confusional, normalização do exame neurológico e regressão da síndrome inflamatória analítica. Completou tratamento em ambulatório com doxiciclina (total de 7 dias de antibiótico). Manteve seguimento em consulta externa de Medicina interna. Na última reavaliação apresentava-se assintomático.

Discussão: O presente caso ilustra uma manifestação atípica da infeção por leptospira, a meningite asséptica, com a particularidade de se apresentar apenas com atingimento neurológico, sem disfunção associada de outros órgãos. O diagnóstico e o tratamento da leptospirose são um desafio até para um clínico experiente, devido à sobreposição dos sintomas e sinais com as outras zoonoses. Na doença grave, a mortalidade pode exceder os 40%. Neste caso a evolução foi favorável.