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DERRAME PERICÁRDICO COMO APRESENTAÇÃO DE NEOPLASIA DO PULMÃO
Doenças oncológicas - Caso Clínico
Congresso ID: CC085 - Resumo ID: 175
Centro Hospitalar de São João, Serviço de Medicina Interna
Inês Ferreira, Ana Monteiro, Manuela Dias, Jorge Almeida
INTRODUÇÃO
Os derrames pericárdicos de moderado a grande volume são malignos em 15-20% dos casos, sendo que a neoplasia do pulmão é a mais frequentemente associada.

CASO CLÍNICO
Apresenta-se o caso de uma doente de 58 anos, sem antecedentes médicos de relevo.
Recorreu ao serviço de urgência por quadro de tosse seca com um mês de evolução, que agravava com o decúbito dorsal, e epigastralgia nos últimos 2 dias. Emagrecimento de 6 Kg em um mês. Negava febre, náuseas e vómitos.
Ao exame objetivo, estava normotensa, taquicárdica, abdómen doloroso à palpação do epigastro, mas sem sinais de irritação peritoneal. Sem alterações na auscultação. Analiticamente, apresentava padrão colestático com AST e ALT dentro dos valores normais e GGT e FA aumentadas (190 e 493 U/L respetivamente). ECG em ritmo sinusal, com discreta diminuição de voltagem. Retilinização do bordo cardíaco no RX tórax. Ecografia abdominal a revelar derrame pericárdico de moderado volume; fígado com contornos regulares e parênquima homogéneo; sem sinais de colecistite aguda e sem dilatação das vias biliares. Ecocardiograma transtorácico com derrame pericárdico circunferencial de grande volume, com imagens sugestivas de fibrina, com predomínio sobre as cavidades direitas, observando-se compressão das mesmas, e também da aurícula esquerda.
Realizada pericardiocentese diagnóstica e evacuadora com drenagem de 800mL de liquido serohemático. Internada posteriormente.
Do estudo realizado, TC tórax inicial revelava vários focos de consolidação confluentes no pulmão esquerdo, particularmente ao nível da língula, com áreas em vidro despolido à periferia, sem cavitações, admitindo-se em primeira hipótese uma etiologia infeciosa, pelo que iniciou antibioterapia (doente com hipoxemia e aumento da PCR). Eletroforese das proteínas séricas normal. VIH 1 e 2, VHB e VHC, CMV e EBV negativos. Estudo imunológico negativo. Excluídas neoplasias mamária, ginecológica e gástrica. Repetiu TC tórax ao fim de 7 dias, que evidenciava nódulo suspeito de neoplasia nas áreas de consolidação descritas no exame anterior, e imagens sugestivas de metastização ósseas em vários arcos costais e corpos vertebrais. Relatado também nódulo de 15mm no lobo direito da tiróide. Citologia do líquido pericárdico a revelar células de adenocarcinoma (imunohistoquímica sugestiva de primário de origem pulmonar). Realizada biópsia do nódulo tiroideu, que revelou células de adenocarcinoma, compatível com metástase de primário de origem pulmonar.
A doente teve alta com os diagnósticos de adenocarcinoma do pulmão com metastização tiroideia e óssea e derrame pericárdico maligno, orientada para consulta de grupo de Pneumologia.

DISCUSSÃO
Este caso alerta-nos para a necessidade de ter sempre em mente a neoplasia como possível etiologia de derrame pericárdico. A investigação deve, no entanto, excluir outras possíveis causas. De notar ainda que a metastização para a tiróide de um carcinoma pulmonar primário é extremamente rara.