Rita João Soares, Nuno Miguel Monteiro, Joana Silva Marques, Giovana Ennis, Andreia Camacho Correia
Introdução:
A doença de Graves é responsável por cerca de 60-80% dos casos de hipertiroidismo primário. Trata-se de uma doença autoimune, provocada por anticorpos anti-recetor TSH que estimulam a glândula tiroide, no aumento de produção e libertação de hormona tiroideia. A sua prevalência é 10 vezes superior nas mulheres e a sua incidência é mais evidente entre os 20 e 50 anos de idade. Os sintomas mais frequentes consistem em nervosismo, irritabilidade fácil, intolerância ao calor, hipersudorese, palpitações, astenia, perda ponderal e trânsito intestinal hiperativo. Exoftalmia e mixedema pré-tibial são sinais extratiroideus associados ao processo autoimune, que também podem estar presentes
Caso clinico:
Mulher de 60 anos, sem antecedentes pessoais relevantes, sem toma de medicação habitual, proveniente da Suíça Recorreu ao serviço de urgência por quadro de epigastralgias, astenia e perda ponderal com 20 dias de evolução, com agravamento progressivo sendo que a partir do 3ºdia de doença iniciou vómitos e diarreia, sem resposta a antieméticos ou analgesia. Da história epidemiológica, apenas a destacar o fato de estar a viver numa quinta há 3 semanas. Realizou ecografia abdominal, TC-TAP e EDA sem alterações de relevo. Analiticamente com discreta leucopenia, aumento das transaminases, coagulopatia com INR de 1.6, coproculturas e parasitológico de fezes negativos. Foi internada no Serviço de Medicina Interna onde realizou restante estudo etiológico que revelou hipertiroidismo severo com TSH frenada (< 0.008 mUI/L) e T4 livre de 7.7ng/dL, anticorpos anti-peroxidase-tiroideia, anti-tiroglobulina e anti-recetor TSH (Trabs) positivos. Foi evidenciada em ecografia da tiroide, glândula de dimensões aumentadas. Iniciou metibasol com boa tolerância e melhoria do estado geral e dos sintomas gastrointestinais e com repercussão analítica favorável, redução da T4 livre em 50%.
Discussão:
A Doença de Graves pode estar associada a sintomas gastrointestinais, sendo que a perda ponderal se deve ao hipermetabolismo inerente à doença, ao aumento da motilidade intestinal e à malabsorção de nutrientes associada à diarreia. Alterações nas provas de função hepática, particularmente o aumento sérico da fosfatase alcalina, podem estar presentes. Outros sintomas incluídos são os vómitos e raramente dor abdominal, que foi particularmente relevante na história desta doente, alertando para a inclusão do dismetabolismo tiroideu no diagnóstico diferencial deste sintoma comum.