1 - Centro Hospitalar Tâmega e Sousa (Penafiel, Portugal); 2 - Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (Vila Real, Portugal)
Ana Neto (1), Ana Filipa Leal (1), Ricardo Vaz Pereira (2), Inês Oliveira (1), Daniel Seabra (1), Aurora Andrade (1), João Almeida Pinto (1), Paula Pinto (1)
Introdução: A endocardite infeciosa (EI) é uma doença rara com amplo espectro clínico na sua apresentação, variando desde uma síndrome febril até ao acidente vascular cerebral. Apesar dos avanços nas estratégias diagnósticas e terapêuticas, EI mantém-se uma doença com elevada morbimortalidade.
CASO CLÍNICO: Homem de 55 anos com história de tabagismo e etilismo, sem outros antecedentes de relevo. Internado por suspeita de isquemia no membro inferior esquerdo. Apresentava múltiplas lesões hemorrágicas cutâneas plantares e algumas lesões nodulares dolorosas à palpação, compatíveis com lesões de Janeway e nódulos de Osler; analiticamente observou-se elevação dos parâmetros inflamatórios sistémicos e do BNP. Pela suspeita de EI realizou ecocardiogramas transtorácico e transesofágico que evidenciaram vegetações nas válvulas aórtica e mitral, sem complicações perivalvulares, e cardiopatia dilatada com disfunção biventricular, previamente desconhecida. Iniciou empiricamente vancomicina e ceftriaxone. Ao 19º dia apresentou rash cutâneo generalizado pruriginoso, assumindo-se reação de hipersensibilidade à antibioterapia sendo esta suspensa. Após 5 dias ocorreu reelevação dos parâmetros inflamatórios, desta vez com febre e shivering, pelo que retomou ceftriaxone, entretanto suspenso por neutropenia secundária. Iniciou daptomicina em alternativa. Hemoculturas negativas com manutenção de vegetações valvulares em reavaliações subsequentes.
DISCUSSÃO: O diagnóstico de EI baseia-se nos critérios de Duke modificados. Neste caso, o tratamento foi iniciado com o diagnóstico de endocardite possível (1 major e 2 minor), tendo-se consumado o diagnóstico definitivo apenas após interrupção da antibioterapia. O presente caso clínico ilustra uma apresentação que, apesar de consagrada na literatura, não é a mais comum. O reconhecimento precoce da EI requer um alto grau de suspeição e conhecimento das várias manifestações clínicas, já que a alta taxa de mortalidade da doença exige tratamento atempado.
No caso que apresentamos, o doente foi proposto para cirurgia cardíaca tendo sido recusado por alto risco cirúrgico. Cumpriu antibioterapia com resolução da febre e normalização de parâmetros inflamatórios. Após um ano de follow-up o doente mantem-se em seguimento na consulta de Cardiologia, sem recorrência de clínica infecciosa.