ESTENOSE VALVULAR AÓRTICA – UMA CAUSA RARA DE ANEMIA FERROPÉNICA
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P156 - Resumo ID: 1787
Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar Universitário de São João, Porto, Portugal
Pedro Ribeirinho Soares, Margarida Mesquita, Tânia Proença, Carla Andrade, Diana Ferrão, Catarina Pereira, José Marques, Fernando Nogueira, Jorge Almeida.
Introdução
A estenose aórtica é a valvulopatia mais comum em doentes idosos, constituindo uma causa importante de morbimortalidade neste grupo etário. A presença de angiodisplasias constitui um processo degenerativo relacionado com a idade e uma importante causa de hemorragia gastrointestinal. O síndrome de Heyde constitui uma entidade de reconhecimento crescente: a presença de estenose aórtica promove, por um lado, o surgimento de lesões angiodisplásicas devido à vasodilatação e angiogénese induzida pela hipóxia; por outro, a degeneração de multímeros de Fator de Von Willebrand provocada pelo shear stress sob a válvula estenosada induz uma forma de doença de Von Willebrand adquirida (tipo 2A).
Caso Clínico
Homem de 72 anos com história médica conhecida de síndrome metabólico, síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) grave e estenose aórtica moderada documentada há 1 ano. É admitido para estudo de anemia ferropénica com vários meses de evolução, com necessidade de suporte transfusional. Estando suplementado com ferro oral. Referia astenia associada a dispneia para os pequenos esforços; desconhecia perdas hemáticas. Ao exame objetivo apresentava mucosas descoradas; sopro sistólico no foco aórtico de intensidade III/VI com irradiação pré-cordial, sem outras alterações de relevo. Analiticamente documentada anemia ferropénica (Hb 9.5 g/dL, SatTransf 3%, Fe 22 ug/dL, Ferritina 21.8 ng/mL). Realizou endoscopia digestiva alta que demonstrou a presença de angiectasias gástricas, congestivas, submetidas a terapêutica com árgon plasma; na colonoscopia documentados divertículos do cólon sigmóide, sem evidência de hemorragia recente. Repetiu ecocardiograma transtorácico que demonstrou estenose aórtica severa (área de 0.8 cm2 e gradiente médio de 44 mmHg) e função biventricular conservada. Após tratamento endoscópico, estabilização clínica e do hematócrito, teve alta orientado para consulta de cirurgia cardiotorácica para correção cirúrgica de estenose valvular aórtica.
Discussão
O diagnóstico de síndrome de Heyde implica a exclusão de outras patologias, nomeadamente neoplasias do tubo digestivo, doença ulcerosa péptica, doença celíaca e/ou deficiência nutricional (como o défice de vitamina B12 e ácido fólico). O risco de hemorragia digestiva em doentes com estenose aórtica é cem vezes superior ao dos doentes sem esta valvulopatia. A presença de angiodisplasias num doente com estenose aórtica deve lembrar a possibilidade de diagnóstico de síndrome de Heyde, sendo que o reconhecimento atempado desta patologia permitirá reduzir a morbimortalidade associada.