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COMPLICAÇÕES DE ENDOCARDITE – UM EXEMPLO VIVO
Doenças cardiovasculares - E-Poster
Congresso ID: P200 - Resumo ID: 177
Hospital da Senhora da Oliveira - Guimarães
Ângela Almeida, Margarida Cerqueira, Cristina Cunha, Emília Lopes, Jorge Cotter
Introdução: A endocardite assume-se como uma entidade com elevada morbi-mortalidade. Certas condições predispõem a situações clínicas de maior gravidade e risco de complicações, nomeadamente a presença de material cardíaco protésico. Segundo o estado da arte, até 25% dos doentes têm embolização na altura do diagnóstico, sendo que o cérebro e o baço são os órgãos mais frequentemente afetados quando a infeção é das válvulas esquerdas. A espondilodiscite ocorre em até 15% dos casos de endocardite e a sua manifestação inicial é, geralmente, lombalgia. Além das complicações já referidas, a lesão renal aguda também pode ocorrer em 5 a 30% dos casos, com etiologia quer imune quer isquémica quer tóxica (antibioterapia, contrastes administrados, etc.). Importa, portanto, o diagnóstico (e tratamento) atempado da infeção e das suas possíveis complicações agudas, de modo a melhor gerir a situação clínica de forma holística.
Caso clínico: Masculino, 80 anos, com antecedentes de estenose aórtica severa com substituição por prótese biológica, FA hipocoagulada com apixabano, HTA e dsilipidemia. Admitido na enfermaria de Medicina Interna por febre, eritrocitúria e LRA AKI1, medicado empiricamente com cotrimoxazole. Por deterioração do estado de consciência e surgimento de sopro aórtico sistólico III/VI, realizou ecocardiograma transtorácico e TC-CE urgentes, a documentar vegetação na dependência da prótese aórtica e enfarte agudo do território da artéria cerebral posterior direita. Nessa altura, hemocultura colhida à admissão com isolamento de Enterococcus faecalis multissensível, pelo que suspendeu cotrimoxazole e iniciou antibioterapia dirigida com ampicilina e ceftriaxone. Estando hipocoagulado com HBPM, desenvolveu dor abdominal e dor gemelar esquerda, tendo realizado TC abdominopélvico e doppler venoso do membro inferior esquerdo, a documentar enfarte esplénico e TVP gemelar esquerda, respetivamente. Por lombalgia, realizou TC da coluna lombar e, posteriormente, RMN que afirmaram o diagnóstico de espondilodiscite em L5. Atendendo às complicações embólicas e à espondilodiscite, optou-se por prolongar antibioterapia até às 8 semanas, após as quais realizou ecocardiograma de reavaliação, sem evidência de endocardite. Repetiu também hemoculturas, já estéreis. Realizou plano de reabilitação com lombostato. Teve alta após cumprimento do esquema terapêutico previsto, com melhoria progressiva significativa do estado de consciência e do grau de autonomia, ficando orientado para consulta de Cardiologia, Fisiatria e Ortopedia.
Discussão: Coloca-se este caso a discussão pela importância do reconhecimento rápido e perspicaz de sinais de alarme e fatores de risco que devem direcionar a investigação, como é o caso da presença de febre em doente de idade avançada com prótese valvular, com agravamento renal e neurológico e, posteriormente, queixas álgicas lombares e gemelares, cruciais na orientação deste caso clínico.