Sara Almeida Ramalho, Margarida Fernandes, Rita Alçada, João Namora
Introdução
As alterações agudas do movimento apresentam variadas etiologias, entre elas as causas vasculares e metabólicas. Os autores apresentam um caso clínico de hemicoreia aguda.
Caso Clínico
Mulher de 75 anos, reformada, autónoma nas actividades de vida diária, com antecedentes pessoais de hipertensão arterial e hipotiroidismo. Previamente assintomática, refere o surgimento súbito e em repouso de movimentos involuntários repetitivos no membro inferior esquerdo e posteriormente também no membro superior esquerdo. Por agravamento progressivo do quadro com cansaço, marcada ansiedade e mal-estar acompanhantes, recorreu ao serviço de urgência. Negava outras queixas.
Na observação inicial apresentava-se apirética, tensão arterial 115-81mmHg, pulso 92bpm, rítmico, normoglicémica. Vigil, orientada, colaborante, sem alterações significativas do exame objectivo geral. Ao exame neurológico, sem alterações da linguagem, sem assimetrias faciais nem alterações da oculomotricidade, força muscular e sensibilidade mantidas e simétricas, reflexos osteotendinosos simétricos e reflexos cutâneo-plantares em flexão bilateralmente. Evidenciavam-se movimentos involuntários amplos e repetitivos do hemicorpo esquerdo compatíveis com hemicoreia. Analiticamente sem alterações e com electrocardiograma em ritmo sinusal sem outras alterações significativas. Realizou tomografia computorizada crânio-encefálica que revelou aspectos compatíveis com pequeno hematoma talâmico direito. Posteriormente a ressonância magnética cranio-encefálica confirmou pequeno hematoma anterolateral direito com provável etiologia microvascular crónica hipertensiva em fase absortiva. Foi medicada com risperidona e posteriormente com clonazepam, tendo-se verificado extinção dos movimentos involuntários.
Discussão
As doenças do movimento em consequência de acidente vascular cerebral (AVC) são raras. A coreia é a mais frequente e está associada a lesões do tálamo e dos núcleos da base. Quando associada a AVC ocorre na fase aguda e geralmente tem um bom prognóstico. O neurotransmissor mais frequentemente envolvido é o GABA, uma vez que tem um papel importante nos circuitos corticais relacionados com o movimento voluntário. O presente caso clínico pretende destacar esta apresentação pouco comum de AVC já que é um dos principais diagnósticos diferenciais de alterações agudas do movimento. O seu reconhecimento é importante para um diagnóstico precoce e terapêutica sintomática e da causa subjacente, uma vez que os movimentos involuntários podem resultar em desconforto importante para o doente.