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PERITONITE ESCLEROSANTE ENCAPSULADA PÓS-DIÁLISE PERITONEAL.
Doenças Renais - Caso Clínico
Congresso ID: CC088 - Resumo ID: 1797
Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar Universitário de São João, Porto, Portugal
Pedro Ribeirinho Soares, Roberto Calças Marques, Tânia Proença, Carla Andrade, Diana Ferrão, Catarina Pereira, José Marques, Fernando Nogueira, Jorge Almeida.
Introdução
A diálise peritoneal é a forma terapêutica de substituição renal em 4% dos portugueses com doença renal crónica em estadio 5. A peritonite esclerosante encapsulada é uma complicação rara desta técnica, na qual ocorre um processo inflamatório difuso do peritoneu. A acumulação de tecido fibroso no espaço que circunda as ansas intestinais limita a sua mobilidade podendo motivar a oclusão ou suboclusão intestinal, associada a uma elevada taxa de morbimortalidade (56-93%).

Caso Clínico
Homem de 72 anos com história de insuficiência cardíaca isquémica e doença renal crónica estadio 5 de etiologia indeterminada submetido a diálise peritoneal durante nove anos. Admitido por quadro de dor abdominal referida aos quadrantes inferiores, associada a náuseas, vómitos alimentares e dejeções líquidas com cerca de dois meses de evolução. Ao exame objetivo apresentava mucosas desidratadas e abdómen doloroso à palpação dos quadrantes inferiores com empastamento local. Analiticamente constatada hipoalbuminémia ligeira (27.8 g/L) e elevação da proteína C-reactiva (94.2 mg/L). Radiografia abdominal demonstrou a presença de níveis hidroaéreos ao nível intestino delgado. Tomografia computadorizada (TC) abdominopélvica documentou a presença de distensão difusa de andas de delgado, conglomeradas em topografia central, sugestivas de peritonite esclerosante encapsulada (abdominal cocoon). Durante o internamento, ficou em pausa alimentar tendo iniciado fluidoterapia e corticoterapia. Apresentou boa evolução clínica, com tolerância alimentar progressiva e resolução total do quadro de suboclusão. Após estabilização clínica, teve alta com indicação para realização de tamoxifeno 20mg/dia.

Discussão
Os doentes submetidos a diálise peritoneal apresentam um risco acrescido do desenvolvimento de peritonite esclerosante encapsulada, a qual se relaciona com o tempo de duração desta técnica de substituição renal e pode surgir vários anos após a sua interrupção. O diagnóstico diferencial implica a exclusão de outras patologias da cavidade abdominal como neoplasias, hérnias e infeções, nomeadamente peritonite tuberculosa. O uso de esteróides, imunossupressores e tamoxifeno parecerem benéficos (em particular a corticoterapia pelos efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores) padecendo, contudo, de maior nível de evidência científica. O tratamento cirúrgico está associado a uma elevada taxa de formação de fístulas e perda da anastomose local. Apesar da associação pouco frequente entre a diálise peritoneal e os casos de peritonite esclerosante encapsulada (0.4-4.4%), dado a sua gravidade e potencial morbimortalidade é fundamental o seu reconhecimento diagnóstico e tratamento adequado.