Gonçalo Santos, Ana Monteiro, Maria Duarte, Inês Ferreira, Beatriz Leão, Luís Malheiro, João Nuak, Susana Silva, António Sarmento
Introdução: A sinusite é uma patologia comum, cujas complicações se tornaram raras desde o advento dos antibióticos. Embora incomuns, estas complicações estão associadas a elevada morbi-mortalidade e incluem a celulite da órbita, o empiema cerebral e o tumor de Pott, uma tumefação mole frontal que traduz coleção abcedada suprajacente a osteomielite. O grau de suspeição deve ser maior nos doentes com sinusite crónica ou recorrente e nos imunocomprometidos.
Caso Clínico: Apresenta-se um caso de um homem de 27 anos, que recorreu ao serviço de urgência por cefaleia frontal associada a edema palpebral e dor ocular direita com um mês de evolução. Como antecedentes relevantes, fora submetido a cirurgia aos seios perinasais 2 anos antes e recentemente tivera comportamentos sexuais de risco. Objetivamente apresentava-se apirético, com edema e rubor palpebral do olho direito, dor com os movimentos oculares e diplopia na posição primária do olhar. A fundoscopia era normal. Não apresentava alterações no exame neurológico sumário. No estudo analítico, de salientar leucocitose com neutrofilia e elevação da PCR, com serologia VIH negativa. Realizou TC cerebral e das órbitas, que revelou opacificação por material com densidade de tecidos moles dos seios frontais e labirinto etmoidal direito com desmineralização e erosão óssea destas estruturas. Esta colecão apresentava extensão à órbita direita com apagamento da gordura pré e pós-septal e à cavidade endocraniana, sugerindo empiema extra-axial fronto-orbitário direito. Foi submetido a drenagem cirúrgica desta coleção, com saída abundante de pús que foi enviado para análise microbiológica. Foi internado e iniciou antibioterapia empírica com meropenem e vancomicina. Após 7 dias sem identificação de qualquer patogéneo, a antibioterapia foi alterada para ceftriaxone e metronidazol em dose meníngea e anfotericina-B. Suspendeu anfotericina-B após 8 dias dada a ausência de identificação de fungos na anatomia patológica. A TC de controlo realizada às 6 semanas de terapêutica revelou resolução da coleção extra-axial e da órbita direita, mantendo preenchimento dos seios frontais e das células etmoidais, sobretudo à direita. Não foi possível isolar qualquer agente nos estudos microbiológicos realizados. Após cumprir um total de 6 semanas de antibioterapia empírica, considerando a boa evolução clínica, analítica e imagiológica, o doente teve alta para a consulta externa, mantendo-se assintomático.
Discussão: Apesar da sua raridade, o tumor de Pott é uma complicação grave de uma infeção comum que requer um diagnóstico célere e a instituição de terapêutica médica e cirúrgica agressiva. Para o diagnóstico é essencial a TC, que permite a localização da coleção e a sua drenagem cirúrgica. Após se obter o controlo de foco é necessário instituir antibioterapia adequada, com cobertura de anaeróbios. Esta deve ser mantida durante um período não inferior a 6 semanas.