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CARCINOMA DA NASOFARINGE – APRESENTAÇÃO ATÍPICA DE UMA NEOPLASIA RARA
Doenças oncológicas - E-Poster
Congresso ID: P778 - Resumo ID: 1815
Hospital da Horta, EPER
Ricardo Veloso, Ana Simas, Maria Menezes, Ana Carolina Silveira, Juvenal Morais, Mariela Rodrigues, Joana Decq Mota, Fátima Pinto, António Goulart
Os carcinomas da nasofaringe são uma entidade clínica rara. Têm uma incidência bimodal, com um pico na adolescência e na 6ª década de vida, sendo mais comuns no sexo masculino. A sua etiologia parece estar ligada à infeção pelo vírus Epstein-Barr (EBV). As principais manifestações ocorrem pelo seu crescimento local com sintomas nasais ou pela invasão de estruturas adjacentes, afetando mais comummente o ouvido, o sistema nervoso central e a região cervical.
Doente do sexo feminino, 30 anos, escriturária. Sem patologias conhecidas.
Encaminhada pelo médico de família ao serviço de urgência por otalgia esquerda intensa e recorrente com 4 meses de evolução, associada a hipoacusia homolateral. Referia ainda cefaleia temporal e cervicalgia esquerda. Recentemente, disartria de agravamento progressivo com 1 semana de evolução.
Ao exame objetivo apresentava disartria, desvio para a esquerda na protusão da língua e pequenas adenopatias cervicais esquerdas, indolores à palpação, de consistência elástica e não aderentes aos planos profundos. Restante exame físico, incluindo o exame neurológico, sem alterações.
Para esclarecimento do quadro realizou tomografia computorizada (TC) cranioencefálica, que não revelou lesões.
Fez ainda ecografia da região cervical, que demonstrou aglomerado adenopático ao nível do feixe vasculonervoso do pescoço à esquerda.
Decidido internamento para estudo.
No internamento fez TC cervical que confirmou aglomerado de pequenas adenopatias na zona intermédia do território jugular profundo à esquerda, sem outras alterações, nomeadamente a nível da hipofaringe.
O estudo serológico realizado era compatível com contacto prévio com EBV e citomegalovírus. Serologia HIV negativa.
Foi observada por ORL que detetou hipoacusia na ordem dos 6000Hz com acufeno. Indicação para reavaliação em 3 meses.
Teve alta, orientada para consultas de ORL e Medicina Interna.
Em consulta de reavaliação de ORL, foi detetada massa vascularizada na nasofaringe à esquerda com cerca de 2 cm em rinoscopia posterior. Realizou ressonância magnética nuclear cervical e da base do crânio, que demonstrou lesão infiltrativa da nasofaringe, com extensão à base do crânio, achados sugestivos de carcinoma da nasofaringe.
Biopsada a lesão, cujo estudo histológico foi compatível com carcinoma nasofaríngeo não queratinizante, AE1/AE3 positivo e EBER positivo.
Para estadiamento realizou tomografia por emissão de positrões, que revelou lesão hipermetabólica da nasofaringe, com extensão à base do crânio e adenopatias cervicais à esquerda, achados sugestivos de malignidade – T4N2M0.
Orientada para instituição de referência onde foi proposto tratamento com quimioterapia e radioterapia. Atualmente mantém tratamento, com resposta parcial.
Com este caso clínico pretendemos alertar para a importância da valorização da clínica, ainda que fruste e inespecífica, para o correto diagnóstico e abordagem terapêutica.