Ana Luísa Esteves, Ana Rita Barradas, Sérgio Pereira, Ana Pãozinho, Isabel Madruga
Introdução: O espectro clínico da infeção causada pelo citomegalovírus (CMV) é diverso e depende principalmente do hospedeiro. As infecções por CMV em pacientes imunocomprometidos podem causar doença grave e morbimortalidade importante. Nos doentes imunocompetentes a doença tipicamente tem evolução benigna e por vezes assintomática. Em doentes idosos e com múltiplas comorbilidades, atendendo ao possível prognostico reservado da colite a CMV, torna-se essencial a sua identificação atempada.
Caso clínico: Doente do sexo feminino, 88 anos, dependente nas atividades da vida diária (AVD’s), com antecedentes relevantes de hipotiroidismo primário, sob reposição com levotiroxina. História de internamento prévio por diarreia crónica com cerca de 6 dejeções líquidas por dia, sem sangue, muco ou pus, negando febre. Diagnosticada colite infeciosa sem identificação de agente, medicada com trimetropim/sulfametoxazol durante 5 dias, com coproculturas e pesquisa de Clostridium difficile negativas. Retornou ao Serviço de Urgência duas semanas depois por quadro semelhante. Sem alterações ao exame objetivo, destacava-se analiticamente aumento da PCR (5,6mg/dL) e função tiroideia sem alterações. Foi internada num serviço de Medicina Interna e realizou nova pesquisa de Clostridium que foi negativa. Efetuou estudo colonoscópico, mostrando mucosa difusamente edemaciada, com erosões e ulceração profunda, não poupando o reto. Biópsia compatível com colite em atividade intensa com ulceração associada a CMV. Excluíram-se causas de imunodeficiência. Iniciou terapêutica de indução com valganciclovir endovenoso 5mg/kg durante uma semana com resolução do quadro. A doente teve alta com valganciclovir oral 900mg de 12/12h durante 14 dias, apresentando evolução clinica favorável.
Conclusão: Este caso clínico ilustra a importância de considerar a hipótese de colite por CMV no diagnóstico diferencial do doente imunocompetente com diarreia crónica.