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HIPERTENSÃO PORTAL EM CONTEXTO DE DOENÇA CELÍACA
Doenças digestivas e pancreáticas - Caso Clínico
Congresso ID: CC030 - Resumo ID: 1818
Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo – Hospital José Joaquim Fernandes
Margarida Paixão Ferreira, Joana Lima, Vera Cesário, José Vaz
Introdução: A hipertensão portal idiopática é clinicamente caracterizada por evidência de hipertensão portal não cirrótica, com possível presença de esplenomegália e pancitopenia, sem que se conheça uma etiologia definida. A doença celíaca é uma patologia sistémica auto-imune, que é desencadeada pelo contacto com o glúten em pessoas geneticamente susceptíveis, sendo o seu diagnóstico resultante da combinação de dados clínicos, serológicos e histológicos, e residindo o tratamento numa dieta sem glúten.
Caso Clínico: Doente do sexo feminino, 54 anos, com antecedentes de doença celíaca desde a infância e supostamente sob dieta de evicção do glúten, que foi referenciada à consulta por anemia ferropénica com repercussão hemodinâmica e funcional (com níveis de hemoglobina de 6,5g/dL), com relato apenas de cansaço fácil, sem perdas hemáticas visíveis. À observação, asténica, pálida e com mucosas descoradas. Para estudo complementar da anemia, foi solicitada endoscopia digestiva alta com evidências de varizes esofágicas (tipo GOV 2) e duodenopatia, cuja histologia era sugestiva de doença celíaca activa - atrofia total das vilosidades e infiltrado inflamatório (Marsh 3c), sendo a videocápsula corroborante (mostrou mucosa duodenal e jejunal com atrofia completa de vilosidades e edema da mucosa). Pelo achado de varizes esofágicas, foi solicitado então Eco Doppler dos vasos hepáticos que demonstrava veia porta ectasiada (14mm), compatível com hipertensão portal, sem outras alterações, e ecografia abdominal sem ascite e com hepatomegália grosseira e baço no limite superior do normal. Estudo complementar de doença hepática crónica sem qualquer achado a destacar que sugerisse outra etiologia. Perante a evidência de doença celíaca activa histologicamente, foi enviada a consulta de Nutrição para optimização de dieta, com necessidade de múltiplos ajustes alimentares. Em reavaliação, cerca de um ano depois, endoscopia digestiva alta sem presença de varizes esofágicas e com duodeno com diminuição das pregas, traduzida histologicamente em permeação epitelial por linfócitos e atrofia parcial de vilosidades (Marsh 3a).
Discussão: A relação entre a doença celíaca e a hipertensão portal tem sido ocasionalmente reportada na literatura, sendo a doença celíaca uma causa rara de varizes esofágicas. Este caso é ilustrativo da importância do seguimento restrito da evicção do glúten para possibilitar a remissão sintomática e histológica da doença e diminuir as possíveis complicações a ela inerentes. Aqui ficou patente que o incumprimento da dieta levou à ocorrência de uma nova apresentação “inicial” de doença celíaca com anemia ferropénica e, pelo tempo de evolução arrastado, à detecção de complicação de hipertensão portal que poderia culminar em consequências mais graves. Há que destacar que a terapêutica da doença celíaca é simples, mas mais importante ainda que o cumprimento da mesma é essencial, sendo o benefício quase ´imediato´.