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NEUROMIELITE ÓPTICA COMO CAUSA DE COMPROMISSO VENTILATÓRIO GRAVE
Doenças cérebro-vasculares e neurológicas - Caso Clínico
Congresso ID: CC099 - Resumo ID: 1828
Centro Hospitalar Universitário do Algarve - SMI1
Domingos Sousa, Marisa Sousa, Ana Isabel Rodrigues, Mourão Carvalho, Rui Almeida, Daniel Nuñez, Sílvia Castro, Cristina Granja
O espectro de doenças da neuromielite óptica (NMOSD) corresponde a um conjunto de entidades raras, inflamatórias e autoimunes do sistema nervoso central (SNC), com consequente desmielinização dos neurónios do SNC que afeta predominantemente a medula espinhal, nervo óptico e tronco encefálico. A Neuromielite óptica (NO) foi até há pouco tempo considerada uma variante da esclerose múltipla (EM). A sua etiopatogenia permanece desconhecida, porém os avanços mais recentes encontraram uma associação com a auto-imunidade dos linfócitos B com produção de auto-anticorpos (IgG) contra o recetor aquoporina-4 (AQ4). O auto-anticorpo anti-MOG e a IL-6 tem também sido associado ao NMOSD. A sintomatologia varia de acordo com a localização da lesão no SNC: neurite óptica – perda de acuidade visual - e/ou mielite transversa com sintomatologia motora, sensitiva ou mista. O tratamento atual visa prevenir, atrasar ou diminuir a gravidade das exacerbações. Como 1ª linha está indicado o tratamento com corticoide (1gr/dia) durante 5 dias e a plasmaferese. Numa 2ª linha terapêutica utiliza-se o rituximab e tocilizumab.
CASO CLÍNICO
Mulher, 19 anos, natural da América Latina, desenvolve quadro de diminuição da acuidade visual, hipoestesia no hemicorpo esquerdo com evolução para hemiparesia esquerda com incapacidade para a deambulação sem apoio. É internada para estudo e ao 3º dia desenvolve clínica de hipoventilação grave e consequente insuficiência respiratória global com necessidade de entubação endotraqueal e ventilação mecânica. A RMN-CE revelou uma extensa área de anomalia focal no sinal intramedular entre C1-C5. O estudo analítico revelou: IgG positivo anti-AQ4 e IgG anti-MOG negativo. Foi medicada com pulso de metilprednisolona 1gr/dia 5dias, seguido de plasmaferese. Após um mês de terapêutica, a doente apresenta-se melhorada: sem alterações cognitivas, sensibilidade fina e propriocetiva preservadas; a nível motor com preservação dos movimentos do pescoço e força muscular grau 2/5 no hemicorpo direito; acuidade visual e capacidade fonética recuperadas; ROT’s aumentados.
Encontra-se em terapêutica com prednisolona 60mg/dia e rituximab.
DISCUSSÃO
O caso descrito é um exemplo clássico ilustrativo de NO, sendo o diagnóstico um desafio na prática clínica. O diagnóstico diferencial com a EM é crucial, pois as orientações terapêuticas são diferentes. O caso descrito tem marcadores de auto-imunidade positivos para AQ-4, mas anti-MOG negativos. Realçamos a sua resposta à terapêutica parcial mas gradual.
O prognóstico da NO é desfavorável, mas as atitutes terapêuticas disponíveis permitem o atraso na progressão da doença, melhoria sintomática ligeira a moderada e controlo dos surtos de remissão a médio prazo com o desenvolvimento de anticorpos monoclonais (rituximab e o Tocilizumab).
Importa, por isso, continuar a investigação nesta área, documentando com casos clínicos a resposta a tratamento com vista a uma melhoria do prognóstico e qualidade de vida nestes doentes.