Ricardo Veloso, Ana Simas, Maria Menezes, Ana Carolina Silveira, Juvenal Morais, Mariela Rodrigues, Joana Decq Mota, Fátima Pinto, António Goulart
Doente do sexo masculino, 25 anos, solteiro, comissário de bordo. Antecedentes pessoais de infeção VIH com diagnóstico 3 anos antes e patologia hemorroidária. Não manteve seguimento regular nem iniciou qualquer terapêutica.
Deslocou-se ao serviço de urgência por surgimento de lesões violáceas em várias áreas corporais – face, membros inferiores e pénis.
Associadamente apresentava diarreia, com cerca de 15 dejeções diárias, e perda ponderal significativa. Referia ainda queixas de pirose, odinofagia, náuseas, vómitos incoercíveis e hematemeses com 1 semana de evolução. Ao exame objetivo apresentava lesões leucoplásicas da orofaringe, sugestivas de candidíase oral, várias peças dentárias cariadas e lesões violáceas dispersas, dolorosas.
Colocou-se a hipótese de um sarcoma de Kaposi, tendo sido internado.
Realizou biópsia cutânea das lesões e endoscopia digestiva alta e colonoscopia, que detetaram lesões violáceas no corpo gástrico, no colón sigmóide e no recto, tendo sido efetuadas biópsias. O estudo histológico das biópsias cutâneas foi positivo para sarcoma de Kaposi e demonstrou ainda a presença de molusco contagioso, mas não foram detetados sinais de sarcoma de Kaposi nas biópsias transendoscópicas.
Ainda no internamento, iniciou terapêutica anti-retroviral (TARV) com Emtricitabina, Tenofovir e Dolutegravir, associado a Fluconazol e profilaxia com Trimetoprim/Sulfametoxazol.
O doente teve alta, tendo sido referenciado para reavaliação em consulta de Medicina Interna.
O sarcoma de Kaposi é um tumor de células endoteliais, raro na sua forma endémica, mas relativamente comum em doentes imunocomprometidos, principalmente em doentes com infeção por VIH avançada. A sua incidência tem decrescido, principalmente com os avanços terapêuticos nesta patologia, nomeadamente a TARV.
Achamos estas imagens pertinentes, por ser uma apresentação exuberante de uma patologia com incidência decrescente, pelos avanços no diagnóstico e tratamento que permitem preveni-la mais eficazmente.