Marta Costa, Patricía Carvalho, Rui Santos, Armando Carvalho
Introdução Os fármacos antitrombóticos são vastamente utilizados na prática clínica, sendo a hemorragia intracerebral a sua complicação mais grave. A relação risco-benefício do seu uso é uma preocupação comum e, em populações com fatores de risco para hemorragia intracerebral, não se encontra estabelecida.
Objetivo: Analisar uma amostra de doentes com hemorragia cerebral major e caracterizá-la quanto ao uso de fármacos antitrombóticos, idade, género, história de trauma e resultado.
Material e Métodos Estudo retrospetivo, observacional, que incluiu doentes admitidos no Serviço de Urgência (SU), de Janeiro a Dezembro de 2017, com diagnóstico de saída de: hemorragia intracerebral; hemorragia subaracnóideia; hemorragia subaracnoideia, subdural ou extra-dural, pós-traumática e outra hemorragia intracraniana ou hemorragia intracraniana, não especificada. Foram recolhidos dados clínicos e analisados através do software SPSS.
Resultados Foram incluídos 625 doentes, 42.6% mulheres e 57.4% homens, com uma média de idade de 74±14 anos. Do total, 18.2% encontravam-se medicados com anticoagulantes, a maioria destes (9.9%) com varfarina, 5.5% com Novos Anticoagulantes Orais (NOACs) - rivaroxabano 2.4%, apixabano 1.8%, dabigatrano 1.1% e 0.2% (1 doente) com edoxabano, 2.2% com enoxaparina e 0.3% (2 doentes) com acenocumarol. Uma percentagem superior dos doentes (28.6%) estava medicada com antiagregantes, a maioria destes (19.8%) com ácido acetilsalicílico, 5.8% clopidogrel, 1.1% ácido acetilsalicílico e clopidogrel, 0.8% (5 doentes) ticlopidina, 0.6% (4 doentes) trifusal e 0.2% (1 doente) dipiridamol. Do total, 55.7% dos doentes tinha idade superior a 75 anos e 61.8% tinha história de traumatismo craniano. A taxa de mortalidade global em consequência do episódio de hemorragia que motivou a vinda ao SU foi de 13.1%. A idade superior a 75 anos não se associou a maior taxa de mortalidade (p=0.620). Dos doentes com história de traumatismo, 5.3% faleceram (vs 7.9% sem história de trauma). O óbito foi mais frequente na ausência de trauma (p= 0.0001) e, pelo contrário, sobreviveram mais os doentes com hemorragia após trauma (p=0.0001). Foi objetivada uma associação entre doentes não hipocoagulados e melhoria (p=0.015) vs óbito. Contudo, estar medicado com varfarina não teve influência no resultado (p=0.294). O pequeno tamanho da amostra de doentes hipocoagulados com NOACs não permitiu estabelecer associações acerca destes. Não foi possível estabelecer associação entre medicação antiagregante e resultado (p=0.350).
Conclusões A taxa de mortalidade por hemorragia intracerebral não foi desprezível. A ausência de utilização de medicação anticoagulante associou-se a melhor prognóstivo e a ausência de trauma a pior prognóstico. A idade avançada e a utilização de varfarina, como variáveis independentes, não se relacionaram com maior taxa de mortalidade. Aumentar a amostra de doentes hipocoagulados permitirá obtenção de dados adicionais.