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OSTEOMIELITE PRIMÁRIA DO ESTERNO EM ADULTO IMUNOCOMPETENTE: UM DIAGNÓSTICO RARO
Doenças infeciosas e parasitárias - Poster com Apresentação
Congresso ID: PO037 - Resumo ID: 1836
Serviço de Medicina Interna da Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano
Tiago Fiúza, Monika Dvorakova, Teresa Bernardo, José Sousa e Costa
Introdução: A osteomielite esternal (OE) é a 2ª forma mais comum de ostemomielite em adultos e associa-se a cirurgia cardíaca ou trauma, chamando-se OE secundária. Por outro lado, a OE primária (OEP) perfaz apenas 0.3% dos casos de osteomielite e associa-se a imunodeficiência, consumo de drogas intravenosas, diabetes mellitus, cirrose hepática ou cateterização da veia subclávia. A ocorrência de OEP num indivíduo imunocompetente e sem qualquer fator de risco, torna-a num evento clínico de invulgar raridade.
Caso clínico: Homem de 54 anos, caucasiano, antecedentes de hipertensão arterial e dislipidémia. Recorreu ao serviço de urgência (SU) por queixas álgicas na região do manúbrio esternal, com 14 dias de evolução. Na admissão observava-se edema ligeiro, rubor e calor na mesma localização, com dor intensa à palpação. Do estudo analítico realizado, destaca-se leucocitose, neutrofilia, PCR 9.7mg/dl, sem elevação dos biomarcadores de necrose miocárdica. No TAC-Tórax realizado são descritos 2 nódulos pulmonares de 33x18mm e 11mm, sem outras alterações relevantes. Assumindo-se Síndrome de Tietze de etiologia desconhecida e nódulos pulmonares para estudo, foi internado. Foram colhidas hemoculturas, mas dada a estabilidade clínica do doente não foi iniciada terapêutica antibiótica. Posteriormente observou-se agravamento dos parâmetros inflamatórios analíticos e foi isolado Staphylococcus Aureus sensível a Flucloxacilina nas hemoculturas colhidas no SU. As serologias para VIH foram negativas. Já após o início de antibioterapia com Flucloxacilina, o doente apresentou rash eritemato-pustular, não pruriginoso, com áreas coalescentes, de predomínio no dorso e coxas. Realizadas biópsias cutâneas por punch para estudo microbiológico (estéril) e anatomopatológico (negativo para células neoplásicas), tendo-se assumindo provável rash estafilocócico, no contexto da bacteriemia já descrita. Foram também realizados Ecocardiograma Transtorácico e Broncofibroscopia, ambos sem alterações relevantes. Ao 13º dia de internamento, por apresentar regressão marcada das queixas álgicas esternais e total regressão dos parâmetros inflamatórios analíticos, teve alta com indicação para cumprimento de 8 semanas de antibioterapia com Flucloxacilina e agendamento de PET-SCAN. Esta mostrou lesão hipermetabólica focal, justa-centimétrica, implantada na sicondrose manúbrio-esternal e associada a pequeno foco de osteólise esternal, em fase de regressão. A nível pulmonar não se observaram alterações relevantes. O doente cumpriu o ciclo de antibioterapia já referido e em reavaliação posterior em consulta apresentava total regressão das queixas prévias.
Discussão: Dada a raridade da OEP, pode ser difícil considerá-la inicialmente num doente imunocompetente, sem outros fatores de risco associados. Como neste caso, isso pode levar ao atraso no diagnóstico e terapêutica. O tratamento, baseia-se principalmente em antibioterapia dirigida, mas em casos mais severos pode ser necessária cirurgia.