23

24

25

26
 
O QUE ESCONDE UMA ANEMIA?
Doenças oncológicas - Caso Clínico
Congresso ID: CC086 - Resumo ID: 182
Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro
Patrícia Chow Liu, Paula Vaz Marques, Sandra Alves Morais
O estudo da anemia e da sua etiologia são de extrema importância, pois não são raras as vezes em que uma doença possível pode não ser diagnosticada.
Caso clinico: Homem de 67 anos com antecedentes de hipertensão arterial, dislipidemia e diabetes mellitus tipo II sob antidiabéticos orais. Apresentava astenia de agravamento progressivo com cerca de 6 meses de evolução. Documentada anemia ferropénica sintomática. Negava vómitos, perda ponderal, história de hematémeses, hematoquézias ou melenas. Sem alterações ao exame físico. Iniciado estudo etiológico de anemia, com endoscopia digestiva alta (EDA) sem alterações de relevo com histologia do duodeno a revelar duodenite moderada com atividade ligeira, sem alterações que sugiram síndrome de má absorção e Helycobacter pylori negativa. Colonoscopia sem alterações de relevo. Análises com ferropenia marcada, ferritina baixa e índice reticulocitário a sugerir perdas agudas. Sem critérios de anemia hemolítica (desidrogenase láctica e bilirrubina normais, sem consumo de haptoglobina). Ecografia abdomino-pélvica sem alterações. Realizou endoscopia por cápsula que revelou úlcera do jejuno distal pelo que foi pedida enteroscopia por duplo-balão. Por episódio de dor abdominal intensa tipo cólica, sem alterações do trânsito gastrointestinal, foi orientado para o Serviço de Urgência. Apresentava anemia agravada com necessidade transfusional (hemoglobina de 6.1g/dL, com queda de 4g/dL em 1 mês) e tomografia computorizada abdomino-pélvica que revelou lesão nodular retro-umbilical de 113 x 68 x 90 milímetros, a levantar suspeita de processo neoformativo. Marcadores tumorais negativos. Submetido a laparotomia exploradora que mostrou perfuração contida de úlcera jejunal, com necessidade de realizar enterectomia segmentar de ansa do jejuno, apendicectomia e resseção da gordura pré-peritoneal em bloco. Histologia da peça operatória a descrever metástases múltiplas de melanoma maligno na parede do intestino delgado (jejuno) e no peritoneu (na região do íleo terminal). Da avaliação realizada (pele, ORL, olho e mucosas – EDA e colonoscopia), sem documentação de primário de melanoma. Assumido melanoma maligno metastizado de primário oculto complicada com metástase jejunal ulcerada. Em tomografia de emissão de positrões com envolvimento maligno abdominal, pélvico e muscular (antebraço esquerdo e coxa direita). Dada a presença de mutação preditiva de resposta a terapia dirigida ao BRAF no melanoma (V600K) iniciou tratamento com Dabrafenib e Trametinib. Atualmente encontra-se em seguimento em consulta de oncologia.
Conclusão: Os melanomas são cancros da pele raros e podem desenvolver-se em qualquer local da pele, sendo os locais mais comuns o tronco, pernas, pescoço e face. Raramente podem ocorrer nos olhos, boca, genitais e região anal. São cancros com elevado potencial de metastização quando não são detetados precocemente. Por vezes, são diagnosticados indiretamente, pelo estudo de outras entidades clínicas como uma anemia.