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A MENTIRA TEM PERNA CURTA
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P486 - Resumo ID: 1839
Medicina 7.2, Hospital Curry Cabral, Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central
Matilde Fraga, Jorge Fernandes, Rui Barata, Mário Ferraz, Paolo Iacomini, Mariana Popovici, André Goulart, Ana Raquel Pinto, Ana Catarina Rodrigues, Catarina Pereira, António Panarra
Introdução: A endocardite infecciosa (EI) relacionada com o uso de drogas endovenosas (UDEV) tem uma incidência de aproximadamente 2-4 casos por 1000 anos de consumos, é mais comum no sexo masculino e a média de idade é inferior em relação aos doentes sem consumos. O principal fator de risco é a injeção sistémica de microrganismos da flora cutânea e o Staphylococcus aureus meticilina-sensível (SAMS) é responsável por mais de metade dos casos. Apesar da EI de câmaras direitas ser mais rara é a mais comum nestes doentes. Ocasionalmente, a afeção isolada da válvula tricúspide (VT) pode apresentar-se com quadro clínico relacionado com as suas complicações e sem semiologia de endocardite. Caso clínico:Homem, 41 anos, ex-UDEV em programa de buprenorfina há 2 anos, com hábitos tabágicos ativos e infeção por vírus hepatite C tratada. Recorre ao serviço de urgência por quadro clínico com 7 dias de evolução caracterizado por febre elevada, mialgias, tosse produtiva com expectoração purulenta e toracalgia bilateral pleurítica. Na observação inicial, febril e prostrado; hemodinamicamente estável; eupneico em repouso com saturação periférica de oxigénio de 92% (FiO2 21%); auscultação cardíaca rítmica sem sopros; auscultação pulmonar com murmúrio mantido e simétrico com sibilos dispersos. Analiticamente com elevação dos parâmetros de fase aguda e radiografia de tórax com hipotransparência no terço inferior do campo pulmonar direito. Foi internado por pneumonia bacteriana adquirida na comunidade, tendo iniciado antibioterapia (AB) empírica após colheita de hemoculturas (HC). Manteve-se febril durante os primeiros dias, documentando-se agravamento radiológico (pneumonia bilateral a esboçar cavitações). No 3º dia foi alterada a AB para flucloxacilina por isolamento de SAMS nas HC. Colocada a hipótese diagnóstica de EI da VT, com embolização sética pulmonar. Confrontado com esta suspeita, o doente admitiu UDEV recente. A tomografia computorizada torácica confirmou presença de focos pneumónicos com componente necrotizante em relação com êmbolos séticos e o ecocardiograma transtorácico (ETT) mostrou vegetação na VT. Assim, foram assumidos os diagnósticos de endocardite da válvula tricúspide por SAMS complicada de embolização sética pulmonar tendo cumprido 6 semanas de AB, com melhoria clínica e radiológica, negativação das HC e normalização do ETT. Discussão: Este caso ressalva a importância de uma anamnese cuidada e da revalidação de informação quando pertinente. No caso apresentado, a relação de empatia que se foi estabelecendo foi determinante para uma correta marcha diagnóstica, que apontava desde cedo para EI da VT e que se veio a confirmar nos exames complementares. Salienta ainda o impacto sistémico que UDEV pode ter, com elevados custos de saúde e internamento prolongados. A reincidência de consumos sob programa de buprenorfina faz-nos questionar a adequação do acompanhamento dado a estes doentes nos Centros de Atendimento a Toxicodependentes.