Introdução:
A síndroma febril de origem indeterminada caracteriza-se por temperatura superior a 38.0ºC e duração maior de 3 semanas.
Segundo a literatura há mais de 200 causas conhecidas, com frequência variável. A causa infecciosa é a mais prevalente com 40% casos diagnosticados, seguida das neoplasias com 30%, no entanto cerca de 5% não têm diagnóstico definitivo.
Caso Clínico:
Homem de 41 anos, residente em zona rural, com actividade profissional ao ar livre. Antecedente conhecido de artrite reumatóide seronegativa, diagnosticado e seguido em consulta de reumatologia, medicado com prednisolona 10mg dia além de anti inflamatório não esteróide e metotrexato apenas na fase inicial. Dez meses depois, com intenção de iniciar biotecnológico fez rastreio de tuberculose latente sendo interferon gamma release assays inconclusivo, mesmo assim foi decidido iniciar isoniazida tendo concomitantemente iniciado febre e ligeiro aumento de citólise hepática, pelo que foi suspensa a terapeutica. Apesar disso, manteve quadro de febre anorexia e astenia tendo recorrido ao serviço de urgência três meses depois.
À admissão, de realçar exame objectivo sem alterações, parâmetros inflamatórios elevados, lesão renal aguda e anemia. Depois de colheita de rastreio séptico foi instituída antibioterapia de largo espectro. Contudo, verificou-se agravamento progressivo do estado geral com quadro de prostração, febre elevada, presença de pancitopenia e agravamento da função hepática.
Para esclarecimento do quadro, salienta-se ecografia abdominal que revelou hepatoesplenomegalia tendo-se efectuado mielograma com pesquisa de leishmania, que confirmou a presença de Leishmania donovani extracelular.
Cumpriu ciclo de anfotericina B com melhoria clínica e recuperação total do quadro clínico.
Entretanto, dada a apresentação pouco típica da artrite reumatóide reequacionou-se este diagnóstico, fez estudo auto-imune com critérios de diagnóstico de Lúpus eritematoso sistémico (LES) em discórdia do diagnóstico prévio.
Conclusão:
Tratando-se de um doente sob imunomodeladores, associado doença auto-imunes como o Lúpus eritematoso sistemico e risco epidemiológico para infecções, devemos estar alertas para quadro raros oportunistas e graves.
A leishmaniose visceral é uma infecção rara e invasiva e caso não seja tratada atempadamente tem uma taxa de mortalidade muito elevada.
Apesar do desenvolvimento da medicina a nível dos exames de imagem e técnicas para identificação de microrganismos, continua a ser imprescindível uma boa colheita de história e integração de todos os achados para o diagnóstico definitivo.