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AVC ISQUÉMICO E ENFARTE AGUDO DO MIOCÁRDIO SÍNCRONOS – A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
Doenças cérebro-vasculares e neurológicas - E-Poster
Congresso ID: P634 - Resumo ID: 1843
(1) Serviço de Medicina 2, Hospital Conde de Bertiandos, ULSAM; (2) Serviço de Medicina, Centro Hospitalar do Médio Ave; (3) UAVC, Hospital de Braga
Marta Matos Pereira (1), Joana Cunha (2), Octávia Costa (3), Ana Filipa Santos (3), Carla Ferreira (3)
INTRODUÇÃO:
Os doentes com Acidente Vascular Cerebral Isquémico (AVC-I) agudo apresentam risco aumentado de Enfarte Agudo do Miocárdio (EAM), sendo este uma contra-indicação absoluta para terapêutica trombolítica endovenosa quando ocorrido nos 3 meses anteriores. Os casos de AVC-I agudo e EAM síncronos são raros e representam um desafio na abordagem inicial em contexto de urgência.

CASO CLÍNICO:
Mulher de 82 anos, autónoma, com antecedentes de HTA, dislipidemia e AVC-I da ACM direita prévio submetido a trombólise e trombectomia do qual não resultou sequelas.
Admitida no SU por mal estar geral, hipersudorese e parésia facial central esquerda com 2:30h de evolução, sem toracalgia ou dispneia. No exame neurológico inicial apresentava desvio oculo-cefálico direito, plegia do membro superior e hemiparesia grau 2/5 do membro inferior esquerdos e hemipostesia, com NIHSS de 23; restante exame físico com TA de 100/66mmHg e auscultação pulmonar com crepitações bibasais. O TC-CE da admissão revelou hiperdensidade do segmento M1 da ACMD (ASPECTS de 7), tendo o angioTC confirmado oclusão por trombo. O ECG inicial mostrou ainda supradesnivelamento do segmento ST em V4-V5 com ritmo de Fibrilhação Auricular e bloqueio de ramo direito de novo. Analiticamente com Troponina I de 100ng/L. Dadas as alterações electrocardiográficas, foi avaliada por Cardiologia, tendo realizado Ecocardiograma transtorácico que revelou acinesia apical e anterior.
Tendo em conta que a doente se encontrava em janela para terapêutica endovascular para o AVC, foi decidido em conjunto realizar primeiro trombectomia mecânica, após a qual se verificou melhoria dos défices neurológicos com NIHSS de 19 e recanalização completa (TICI 3). Foi realizado Cateterismo cardíaco de seguida, com oclusão da descendente anterior por trombo, tendo feito ICP com angioplastia e aspiração deste, sem intercorrências.

A doente foi internada na UAVC, assumindo-se AVC-I e EAM anterior de etiologia embólica, tendo iniciado dupla antiagregação e apresentando evolução favorável do ponto de vista neurológico e cardiovascular. Às 24h, mantinha NIHSS de 19, tendo repetido TC CE com enfarte frontoinsular direito e pequena área de transformação hemorrágica, pelo que se decidiu protelar introdução de hipocogulação pela fibrilação auricular até à reabsorção da hemorragia.

DISCUSSÃO:
Dada a raridade dos casos de AVC-I e EAM síncrono, não existe nenhuma estratégia de abordagem para reperfusão dos territórios vasculares bem definida. A decisão deve ser individualizada conforme cada situação clínica, tendo sempre em conta que a reperfusão de um território em primeiro lugar pode ter efeitos deletérios no outro.
Neste caso, o tempo de evolução dos sintomas neurológicos e a presença de EAM anterior de tempo indeterminado com estabilidade hemodinâmica determinaram a abordagem inicial com trombectomia e posteriormente angioplastia, com evolução favorável.